Tempo seco e incêndios ameaçam saúde e mudam rotina de moradores
Calor intenso, baixa umidade do ar e poluição causada por
queimadas deixam população mais propensa a doenças; médicos recomendam evitar
atividades físicas ao ar livre e aumentar o consumo de água para manter a
hidratação
Beth Soares | Tribuna Liberal
O cenário de tempo seco, ocorrência de incêndios e piora na
qualidade do ar na região (Sumaré, Nova Odessa, Hortolândia, Monte Mor e
Paulínia) ameaça a saúde da população e obriga moradores a incluir novos
hábitos na rotina. Nos primeiros dez dias de setembro, a procura por
atendimento médico por causa de problemas respiratórios apresentou aumento de
até 30% nas unidades municipais de saúde, se comparado com o mesmo período do
ano passado. Crianças e idosos são os que mais sofrem, segundo especialistas.
A secretária médica, Aline Fonseca Marques, 34 anos,
moradora de Hortolândia, tem tomado todos os cuidados possíveis para proteger
os filhos, Gabriel Antonio e Lorenzo, dois e sete anos de idade, dos efeitos
negativos da baixa umidade do ar, da poeira e da fuligem causados pelas
queimadas.
“Portas e janelas fechadas. Nada de brincar ao ar livre.
Parece que estamos em guerra. Todos os dias, levantamos e temos que limpar as
cinzas da casa toda”, comenta Aline. Segundo ela, a inalação voltou a ser
rotina na vida das crianças, antes de dormir, para conter a tosse excessiva.
“Temos enfrentado noites mais longas e cansativas...Meu
filho menor é alérgico e faz uso de bombinha. Nós, adultos, sabemos nos virar,
bebemos mais água, mas, ainda assim, fica difícil. Todos os dias, acordamos e
dormimos com a garganta trancada, dor de cabeça. Sem contar no cansaço, pois
não respiramos direito”, desabafa a secretária.
Aline mora em apartamento. Para tentar minimizar o
desconforto causado pelo tempo seco, ela passou a colocar baldes com água (e um
pano dentro) em todos os cômodos da residência. “Também espalhamos toalhas e
lençóis molhados pela casa toda: na cabeceira da cama, cadeiras, e onde der.
Temos que ser criativos, pois está difícil”.
Nesta semana, Aline diz que foi surpreendida com o
esgotamento de umidificador de ar nas farmácias localizadas na região do Jardim
Rosolen. Por causa da alta procura, os estoques estão acabando muito rápido,
afirmam donos de farmácias ouvidos pela reportagem.
A dona de casa Cícera da Silva, 74 anos, vem sofrendo com noites mal dormidas por causa da rinite alérgica, que apresenta piora nas últimas semanas, por causa da poeira e das fuligens. “Tenho feito inalação com soro fisiológico três vezes por dia e tomado os remédios antialérgicos indicados pelo médico, mas, parece que nada adianta. Tenho pedido chuva a Deus”, diz dona Cícera, que acaba de se recuperar de um quadro de pneumonia.
Nesta semana, a SES (Secretaria de Estado da Saúde) divulgou
novas orientações para todo o Estado. A principal recomendação é que as pessoas
evitem atividades físicas ao ar livre e aumentem o consumo de água e líquidos
para manter a hidratação do organismo e das vias aéreas (veja texto abaixo).
Nos últimos dias, as estações medidoras do Estado apontaram
a qualidade do ar como ‘ruim’ ou ‘muito ruim’, de acordo com boletim diário da
Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo). As classificações indicam
que toda a população pode apresentar sintomas como tosse seca, cansaço, ardor
nos olhos, nariz e garganta. Em casos mais graves, podem surgir sintomas como
falta de ar e respiração ofegante.
“Quando a poluição do ar é somada a esses dias de tempo
seco, os efeitos na saúde podem ser ainda mais graves, pois além desses
sintomas pode se agravar ainda mais os problemas respiratórios, além de causar
problemas cardíacos”, afirma Thiago Nogueira, professor doutor do Departamento
de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade Estadual
de São Paulo), em entrevista à Agência de Notícias do Estado de São Paulo.
Segundo o especialista, inalar fumaça e fuligem das
queimadas pode agravar crises de asma, aumentar o risco de inflamação nos
pulmões e irritar as mucosas, a pele e os olhos, o que pode evoluir para uma
conjuntivite bacteriana. “No nariz, os poluentes causam inflamação, acarretando
quadros de rinite e sinusite”, assinala.
Nogueira ainda explica que, além dos efeitos de curto prazo,
a exposição prolongada à poluição do ar pode causar problemas mais graves, a
médio e longo prazo, como câncer de pulmão, doenças cardíacas e até cerebrais.
DICAS PARA CUIDAR DA SAÚDE
- Evite atividades físicas ao ar livre;
- É recomendado aumentar o consumo de água e líquidos para
manter a hidratação do organismo e das vias aéreas;
- Para quem estiver dentro de casa, a orientação é que
mantenham portas e janelas fechadas para reduzir a entrada de partículas de
fora para dentro das residências;
- Equipamentos como purificadores de ar ajudam a manter a
umidade dentro de casa;
- Em regiões de queimadas, como proteção adicional, a
sugestão é de, quando sair de casa, utilizar máscaras do tipo N95, PFF2 ou
P100, que podem reduzir a inalação de partículas se usadas corretamente.
CRIANÇAS E IDOSOS SÃO OS MAIS AFETADOS, ALERTA ESPECIALISTA
DA USP
Crianças e idosos são mais vulneráveis a sofrer impactos na saúde por causa da poluição do ar causada pelos incêndios, com o sistema respiratório, cardiovascular, olhos e a pele menos protegidos. De acordo com professor Doutor do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade Estadual de São Paulo), Thiago Nogueira, as crianças são mais sensíveis devido ao seu sistema imunológico ainda estar em desenvolvimento. “Além disso, as crianças têm uma taxa de respiração maior do que a taxa de respiração dos adultos e, por isso, inalam uma quantidade maior de ar poluído.”
O especialista explica, também, que os idosos são mais
impactados pelo fato de, muitas vezes, possuírem doenças pré-existentes, sejam
elas respiratórias ou cardíacas, o que fragiliza o sistema imunológico, que é o
mecanismo de defesa do organismo. Além disso, pessoas com asma, doenças
pulmonares crônicas, sinusite, rinite alérgica e doenças cardiovasculares
também devem ficar atentas.
A principal recomendação de Nogueira é que pessoas com
doenças cardíacas ou pulmonares, além de idosos e crianças, evitem esforço
físico pesado ao ar livre. Também é recomendado beber bastante água para manter
a hidratação do organismo e das vias aéreas, lavar nariz e olhos e evitar
locais com concentração de fumaça.
Para quem estiver dentro de casa, a orientação é que
permaneça em local ventilado. Equipamentos como purificadores de ar ajudam a
manter a umidade. “Outra recomendação é que as portas e janelas permaneçam
fechadas durante os horários com elevadas concentrações de poluição, para
reduzir a entrada dessas partículas de fora para dentro das residências”,
explica Nogueira.
O especialista em saúde pública recomenda o uso de máscaras
cirúrgicas, preferencialmente do tipo PFF2 ou N95, em regiões com grande
incidência de queimadas. “Ou mesmo lenços de pano para reduzir a exposição às
partículas mais grossas, especialmente para quem mora próximo a locais de
incêndio, de forma a diminuir o desconforto das vias aéreas superiores”,
orienta o especialista.
POSTOS DE SAÚDE REGISTRAM AUMENTO DE PACIENTES COM DOENÇAS
RESPIRATÓRIAS
Postos municipais de saúde de cidades da região registram
aumento de atendimento de pacientes com sintomas de doenças respiratórias,
reflexo do tempo seco e da baixa qualidade do ar. Em Sumaré, a Secretaria
Municipal de Saúde informou uma alta de 30% nas unidades de Pronto Atendimento
da cidade, nos 10 primeiros meses deste mês, se comparado com o mesmo período
do ano passado.
A médica pneumologista do Ambulatório de Especialidades de Sumaré, Bruna Cristina Marabita, explica que esse crescimento ocorre pela somatória da baixa umidade relativa do ar e poluição extrema causada pelas queimadas, cenário que facilita a propagação e infecção das vias aéreas por vírus e bactérias. “As crianças pequenas e idosos são os mais afetados e com maior risco de evolução para doenças mais graves, necessidade de internação e até morte”, alerta Bruna.
Bruna Marabita: médica pneumologista do Ambulatório de Especialidades de Sumaré
A médica orienta que a população pode se prevenir de
problemas respiratórios ao manter uma hidratação adequada, tanto aumentando a
ingestão de água, quanto lavando o nariz com soro fisiológico e até fazendo
inalações. Ela também recomenda, se possível, o afastamento de locais próximos
aos focos de incêndio, além do uso de máscaras de proteção com uma camada de
barreira extra.
Bruna também sugere a utilização de ferramentas para
aumentar a umidade dentro de casa como umidificadores, bacias com água e
toalhas molhadas. Não praticar atividade física nos horários mais críticos (das
10 às 16h), evitando lugares abertos, manter a vacinação em dia e as consultas
médicas de rotina regulares, com um tratamento adequado das doenças crônicas,
são outras recomendações da profissional.
Em Nova Odessa, a secretária municipal de Saúde, Adriana Welsch, confirma o aumento da procura por atendimento médico de pacientes com sintomas de doenças respiratórias, embora não forneça números. “A procura aumentou consideravelmente, principalmente entre idosos e crianças, mais relacionada às doenças respiratórias. Também existe um aumento de demanda de casos de viroses. Temos que enfatizar sempre sobre a importância da hidratação em idosos e crianças e da umidificação dos ambientes como forma de prevenção”, destacou a secretária.
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