Paralisação de campanha dificulta vacinação de animais contra a raiva
Desde 2020, a Secretaria Estadual de Saúde suspendeu a
obrigatoriedade das campanhas de imunização de cães e gatos em todo o Estado;
agora prefeituras disponibilizam somente 1 posto fixo para aplicação de vacina
gratuita, nem sempre de fácil acesso aos tutores locais
Beth Soares | Tribuna Liberal
A suspensão das campanhas de vacinação antirrábica nos municípios do Estado de São Paulo, há três anos, dificulta a imunização de cães e gatos na região. Com respaldo da SES (Secretaria Estadual de Saúde), as prefeituras de Nova Odessa, Hortolândia e Monte Mor deixaram de realizar as campanhas maciças de vacina contra a raiva animal e, agora, disponibilizam somente postos fixos de vacinação, nem sempre de fácil acesso para os tutores. Antes, durante as campanhas anuais, realizadas a partir do mês de agosto, os municípios ofertavam pontos de imunização em todas as regiões das cidades. Hortolândia já registra queda drástica no número de animais imunizados contra a raiva (veja texto abaixo).
Segundo a SES (Secretaria Estadual de Saúde), a decisão de suspender a obrigatoriedade de os municípios realizarem campanhas de vacinação antirrábica levou em conta a ausência de casos de raiva em cães e gatos desde 1998, o que tornou a situação epidemiológica da raiva estabilizada no Estado. Porém, as vacinações de rotina e em casos de contato de cães e gatos com morcegos ainda devem ser realizadas.
“Em 2020, a SES pactuou com os 645 municípios que a imunização antirrábica ocorreria de forma rotineira, garantindo autonomia às prefeituras para definir as estratégias necessárias para a segurança dos animais e da população”, informa nota da Assessoria de Imprensa da SES.
A SES esclareceu, também, que os imunizantes contra raiva são enviados mensalmente aos municípios, de acordo com a necessidade de cada um. Caso precisem de mais doses, as prefeituras devem solicitar uma nova remessa ao Instituto Pasteur. A aquisição e distribuição desse imunizante é de competência federal, o Estado apenas redistribui para os municípios, completa nota do órgão estadual.
O Setor de Zoonoses da Prefeitura de Nova Odessa afirma que segue as esferas superiores (Ministério e Secretaria Estadual de Saúde) quanto à realização de “campanhas” de vacinação antirrábica. Para ter acesso à vacina, o tutor precisa agendar o procedimento por meio do telefone (19) 3466-3972.
“Quando atingimos um número mínimo de animais agendados, entramos em contato com os tutores para marcar dia, horário e local, pois o frasco tem um número certo de doses e, após aberto, temos que utilizar tudo, para não haver desperdício”, explicou a veterinária Paula Faciulli.
A última campanha de vacinação foi realizada no município em 2018. Em 2019, Nova Odessa teve que cancelar a mobilização por falta de envio dos imunizantes pelo Ministério da Saúde.
Em Monte Mor, cães e gatos podem ser vacinados mediante agendamento no site da Prefeitura, o www.montemor.sp.gov.br . Segundo o Setor de Controle de Zoonoses da Prefeitura, a vacinação ocorre todas às terças feiras, das 13h às 16h, na Visa (Departamento de Vigilância em Saúde). O órgão também informou que realiza divulgação em massa e para as clínicas veterinárias sobre a importância da vacinação antirrábica. O município tem uma população de cães e gatos estimada em 5 mil animais. O último caso de raiva animal foi registrado há mais de 40 anos na cidade, observa o Setor de Controle de Zoonoses.
Hortolândia faz a imunização de cães e gatos na UVZ (Unidade de Vigilância de Zoonoses) todas às terças e quartas-feiras, das 8h às 12h, e das 13h às 16h, e às quintas-feiras, das 8h às 12h, afirma a UVZ, por meio da Assessoria de Imprensa. A Unidade está localizada na rua Athanasio Gigo 60, Chácara Recreio 2000. Não há necessidade de agendamento.
FAZ FALTA
Érica Mosca Agugliari, moradora do Jd. Terras de Santo Antonio, em Hortolândia, diz sentir falta da campanha anual de vacinação contra a raiva animal. Sem saber o porquê da paralisação da ação e que a Prefeitura disponibiliza um posto fixo para imunização gratuita dos animais, a tutora do cão Pingo passou a levar o vira-lata para tomar o imunizante em estabelecimentos particulares.
“Eu prefiro a campanha, que oferece postos de vacinação nas escolas. Tem muita gente que não leva o animal para vacinar porque não tem condição de pagar, fora a distância e o incômodo de ter que se deslocar para vacinar o cachorro. Quando tinha (vacinação) nas escolas era bem mais fácil, bem melhor, a distância acaba dificultando”, afirma Érica, que foi informada pela reportagem sobre o posto de vacinação da UVZ.
Segundo a Assessoria de Imprensa da Prefeitura, o município divulga nas redes sociais a importância de manter os cães e gatos vacinados anualmente e o local onde os animais podem ser imunizados. Sumaré e Paulínia não responderam à reportagem.
CAI PROCURA PELA VACINA EM HORTOLÂNDIA
Desde que o Estado suspendeu a campanha de vacinação, o número de animais vacinados em Hortolândia despencou. Dados fornecidos pela UVZ apontam que 14.784 cães e 3.783 gatos foram vacinados em 2019, quando foi realizada a última campanha de imunização. Em 2022, o número caiu para 556 cães e 307 gatos imunizados.
Na última campanha, a Prefeitura disponibilizou 11 pontos fixos de vacinação para facilitar o acesso dos tutores de todas as regiões da cidade. Além disso, duas equipes móveis realizaram a vacina nas ruas. Hortolândia tem uma população estimada em 59 mil cães e 14 mil gatos, segundo a Prefeitura. De 2020 para cá, o município registrou um caso positivo de raiva em morcego, em 2021, e outro em 2022, segundo a UVZ.
“De acordo com as orientações do governo do Estado, a Prefeitura de Hortolândia não deve retomar as campanhas. O município ressalta que a população tem a vacina ofertada na UVZ, gratuitamente, o ano todo”, diz nota da Secretaria de Saúde.
MEDIDA É ADEQUADA, AFIRMA CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA
Para o CRMV-SP (Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo), a suspensão das campanhas de vacinação no Estado “é uma medida adequada em função da situação de controle atingida com as campanhas anuais realizadas durante anos sucessivos”. O médico veterinário Silvio Arruda Vasconcellos, conselheiro efetivo do CRMV-SP, especialista em raiva animal, observa que o último caso de raiva canina no Estado de São Paulo, causado pela variante do vírus mantida pelos cães, ocorreu em 1998, 25 anos atrás.
“Desde então, os casos registrados em cães e gatos são esporádicos e causados por variantes do vírus da raiva mantidas por morcegos. Esse tipo de ocorrência não justifica a realização de uma campanha maciça cujo objetivo é o estabelecimento de uma imunidade de população de cães e gatos, em um curto espaço de tempo, o que é importante para bloquear a transmissão da doença entre os animais da mesma espécie. Contudo, na atualidade, isso não é mais justificado pois não existe mais a transmissão da raiva entre os cães e entre os gatos. Atualmente, as fontes de infecção são os morcegos”.
Vasconcellos destaca que as prefeituras dos municípios do Estado de São Paulo realizam a vacinação antirrábica de rotina dos cães e gatos, gratuitamente, nos serviços de controle de zoonoses, e os clínicos veterinários particulares, também, aplicam a vacina antirrábica nos animais de tutores com poder aquisitivo. “Portanto a vacinação antirrábica não deixou de ser realizada, porém, a campanha maciça de vacinação é que não é mais necessária”.
O conselheiro do CRMV-SP assinala que para evitar a raiva animal é preciso vacinar cães e gatos, uma vez por ano, de acordo com o calendário próprio, nos serviços de controle de zoonoses ou em clínicas veterinárias particulares. “Se constatar que o seu cão ou gato teve contato ou foi agredido por morcegos, procure o atendimento médico veterinário”, completa o especialista.
ONG DE SUMARÉ TEME QUE IMUNIZAÇÃO DE ANIMAIS CAIA NO ESQUECIMENTO
Para Ernesto Tochiaki Suguihara, presidente da Associação Viralatinhas - entidade sem fins lucrativos que atua há mais de 20 anos na proteção animal, em Sumaré -, a suspensão das campanhas maciças de vacinação antirrábica prejudica os animais. “Na mesma proporção que se observa em relação às campanhas de vacinação humana, se com a gratuidade muitos pais e adultos não atendem às campanhas, com os animais é parecido ou mais grave”, afirma o presidente.
Suguihara também alerta para o perigo da baixa procura espontânea pela vacina. “O próprio Instituto Butantã publicou matéria recente em seu sítio sobre os riscos da falta de vacinação antirrábica, inclusive óbito de pessoas. Isso significa que o vírus da raiva está ativo na fauna e a falta de vacinação sistemática implica na possibilidade de propagação da raiva com maior intensidade em algum ponto no qual a vigilância de saúde esteja fragilizada”, destaca
Para evitar que a vacinação antirrábica caia no esquecimento dos tutores, o presidente da Associação Viralatinhas é enfático. “Os pilares básicos, e principais, são a educação e a comunicação. As ações devem ser abrangentes com as possibilidades que as mídias nos permitem hoje, e nas escolas em todos os níveis, pois são onde se formam os futuros tutores responsáveis dos animais”.
VEJA ONDE VACINAR SEU ANIMAL CONTRA A RAIVA GRATUITAMENTE
- HORTOLÂNDIA
UVZ (Unidade de Vigilância de Zoonoses)
Rua Athanasio Gigo, 60, Chácara Recreio 2000.
Horário: terças e quartas-feiras, das 8h às 12h, e das 13h às 16h, e às quintas-feiras, das 8h às 12h.
- MONTE MOR
Visa (Departamento de
Vigilância em Saúde)
Praça Coronel Domingos Ferreira, 41, Centro
Horário: toda terça-feira, das 13h às 16h
Obs: É preciso agendamento pelo site da Prefeitura (www.montemor.sp.gov.br)
- NOVA ODESSA
Agendamento pelo telefone (19) 3466-3972. O local da vacina é definido conforme a demanda.
*As prefeituras de Sumaré e Paulínia não informaram.
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