Meninos são os que menos tomam vacina contra o vírus HPV na região
Dados da Secretaria de Estado da Saúde mostram que somente
56,7% dos garotos de 9 a 14 anos receberam a primeira dose do imunizante e
34,8% foram vacinados com a 2ª dose; meninas apresentam cobertura vacinal de
80,8% (1ª dose)
Beth Soares | Tribuna Liberal
Meninos são os que menos tomam vacina contra o papilomavírus humano, o HPV, nos municípios do GVE-Campinas (Grupo de Vigilância Epidemiológica) que inclui Sumaré, Nova Odessa, Hortolândia, Monte Mor e Paulínia. Segundo dados da SES (Secretaria de Estado da Saúde), somente 56,7% dos garotos de 9 a 14 anos de idade receberam a primeira dose do imunizante e 34,8% foram vacinados com a 2ª dose.
No caso das meninas, a taxa de cobertura vacinal é de 80,8% na primeira dose e de 62,1% para a segunda dose. Nesta semana, o Ministério da Saúde anunciou esquema de vacinação contra o HPV em dose única. O objetivo é ampliar a cobertura vacinal e atingir a meta de imunizar pelo menos 80% do público-alvo (leia reportagem nesta página).
Para o cálculo de cobertura vacinal contra o HPV, esclarece a secretaria estadual, é preciso considerar o corte de vacinados de acordo com a população alvo. Dessa forma, as coberturas apresentadas referem-se ao acumulado dos últimos seis anos para meninas e quatro anos para meninos. Em Nova Odessa, 59% dos meninos tomaram a primeira dose da vacina e 31,8% a segunda. A cobertura vacinal de meninas foi de 80,8%, na primeira dose, e 58,1% na segunda, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde.
“Há anos, orientamos os responsáveis pelas crianças sobre a importância dessa vacina na prevenção contra o câncer. Fazemos campanhas e vacinas nas escolas. Mas, infelizmente, as crianças estão perdendo a chance de se proteger contra o câncer por desinformação e negligência dos pais, que acreditam em fake news e não nos profissionais das unidades de saúde”, assinala a coordenadora da Vigilância Epidemiológica de Nova Odessa, Paula Mestriner.
A Secretaria de Saúde de Hortolândia informa que a cobertura vacinal contra HPV em meninos de 9 a 15 anos é de 57,4% (1ª dose) e 32,9% (2ª dose). Nas meninas de 9 a 15 anos é de 80,8% (1ª dose) e 67,8% (2ª dose). A vacina está disponível nas 17 UBSs (Unidades Básicas de Saúde) da rede municipal de saúde, no horário das 7h30 às 15h30.
O município informa que realiza, com frequência, ação de sensibilização sobre a importância da vacina nas escolas municipais, trabalho que pode ser estendido para as escolas estaduais a partir do segundo semestre. O projeto está em análise. A SES recebe as doses das vacinas do Ministério da Saúde e distribui aos 645 municípios de acordo com a população elegível de cada cidade. A estratégia de vacinação é de responsabilidade das secretarias municipais de saúde.
De acordo com a SES, em todo o Estado de São Paulo a taxa de cobertura vacinal para HPV é de 77,1% na primeira dose para meninas de 9 a 14 anos e de 60,6% para a segunda dose. Para os meninos, entre 9 e 14 anos, 53,2% receberam a 1ª dose da vacina e 33,7% foram vacinados com a 2ª dose.
O Ministério da Saúde alerta que a vacina contra o HPV é a forma mais eficaz de se proteger das infecções sexualmente transmissíveis causadas pelo papiloma vírus humano. Além disso, o HPV também pode causar tumores no colo do útero, na região anal, no pênis e na garganta.
SUS ADOTA ESQUEMA DE VACINAÇÃO EM DOSE ÚNICA PARA AMPLIAR COBERTURA
Nesta semana, o Ministério da Saúde anunciou uma nova estratégia de vacinação contra o HPV no SUS (Sistema Único de Saúde). O imunizante deixará de ser aplicado em duas doses e passará para dose única. A mudança está valendo desde a última terça-feira (2/04), após a publicação de uma nota técnica do Ministério da Saúde sobre o novo esquema vacinal.
De acordo com o Ministério da Saúde, a vacina utilizada no novo esquema da rede pública permanece sendo a dose quadrivalente produzida pelo Instituto Butantan, que protege contra quatro subtipos de HPV associados ao câncer de colo de útero. Com isso, a pasta praticamente dobra a capacidade de imunização dos estoques disponíveis no País, estima o governo federal. “O principal objetivo é aumentar a adesão à vacinação e ampliar a cobertura vacinal visando eliminar o câncer de colo do útero como problema de saúde pública”, afirma nota do Ministério.
“A recomendação da dose única foi embasada em estudos com evidências robustas sobre a eficácia do esquema frente às versões com duas ou três etapas. Além disso, o esquema segue as recomendações mais recentes da OMS (Organização Mundial da Saúde) e da OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde)”, completa o órgão federal de Saúde.
O público-alvo continua sendo formado por meninas e meninos de 9 a 14 anos, visando protegê-los antes da exposição ao vírus. O grupo prioritário também inclui pessoas com imunocomprometimento, vítimas de violência sexual e outras condições específicas, conforme disposição do PNI (Programa Nacional de Imunizações), podendo receber a vacina até os 45 anos.
O Ministério da Saúde recomendou que estados e municípios realizem busca ativa para garantir que jovens brasileiros de até 19 anos tenham acesso à vacina contra o papiloma vírus humano. Nesses casos, poderão receber o esquema em dose única todas as pessoas dentro dessa faixa etária que não receberam uma ou duas doses do imunizante no período recomendado.
REDE PARTICULAR CONTINUA IMUNIZAÇÃO EM DUAS DOSES
A presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Mônica Levi, considerou a mudança uma estratégia acertada. “É uma tendência. Vários países do mundo estão migrando para dose única...Esse cenário depende de cobertura vacinal e não do número de doses. Se você tem uma baixa cobertura vacinal, ainda que seja com duas doses, você não vai ter mais sucesso do que quando há muita gente vacinada – que seja com uma dose só”, explicou Mônica em entrevista à Agência Brasil.
Mônica Levi: presidente da Sociedade Brasileira de
Imunizações
Ela destacou ainda que a mudança se aplica estritamente ao SUS e que o esquema de duas doses para adolescentes de 9 a 14 anos está mantido na rede particular. Isso porque, segundo Mônica, estudos apontam a eficácia da dose única contra o HPV na prevenção do câncer de colo de útero, mas o vírus está associado a outros tipos de câncer, como de orofaringe, pênis, ânus, vagina e vulva.
“O Brasil é signatário de um acordo da Organização Mundial da Saúde para eliminar o câncer de colo de útero e tomar todas as medidas necessárias até 2030. Essas medidas incluem vacinação, rastreamento adequado com dois testes, pelo menos, ao longo da vida das mulheres e acesso ao tratamento. Hoje, o Brasil está focado na eliminação do câncer de colo de útero. Agora, quem se vacina no sistema privado, quer também proteção contra a verruga genital e outros tipos de câncer. E esses dados a gente não tem com dose única porque não foi estudado. Não quer dizer que não vai funcionar, mas a gente não tem esse dado”, observa Mônica.
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