Saúde
Médica Carla Roballo Bertelli: anti-inflamatórios podem aumentar o risco de hemorragia

Dengue: automedicação pode agravar a doença e levar a óbito, diz médica

Buscar assistência médica imediata é primordial para tratar a doença após confirmada; medicamentos são contraindicados em casos de suspeita

Da Redação | Tribuna Liberal

Com os casos de dengue crescendo, qualquer sintoma relacionado à doença já acende uma luz vermelha – febre, dor de cabeça, dores no corpo, dor atrás dos olhos, fadiga, manchas vermelhas, entre outros – e merecem atenção. E um dos erros mais comuns é que pessoas, por desconhecerem as consequências, tentam amenizar os sintomas com a automedicação, que é um grande risco, especialmente se, de fato, o diagnóstico for positivo para a dengue.

Por isso, especialistas alertam sobre os medicamentos contraindicados para casos de suspeita de dengue. Na dúvida, o mais correto é sempre buscar auxílio em um Pronto Atendimento, Unidade Básica de Saúde e outros serviços do gênero. Afinal, os índices do Ministério da Saúde ressaltam que a proliferação da doença no país segue em ritmo acelerado: desde janeiro deste ano foram registrados 512.353 casos prováveis de dengue, com 340 sendo investigados e 75 óbitos confirmados.

Médica Clínica Geral e Coordenadora do Pronto Socorro do Vera Cruz Hospital, em Campinas, Carla Roballo Bertelli destaca que uma das principais classes de medicamentos a serem evitados são os anti-inflamatórios, que muitas vezes são comercializados sem receita médica e podem levar a sérias complicações. “Por interagirem com as plaquetas (que atuam no sistema de defesa do corpo e têm função de coagular o sangue), diminuem a função plaquetária e reduzem a coagulação sanguínea. Com isso, os anti-inflamatórios podem aumentar o risco de hemorragia, agravando a doença”, explica. As hemorragias desencadeadas podem ser internas, levando a um risco maior de complicações pela doença.

A especialista também alerta que as pessoas que fazem uso de ácido acetilsalicílico, o popular AAS (também conhecido pelo nome comercial de aspirina), cuja função é analgésica e antiagregante, precisam de atenção especial, principalmente nos pacientes que fazem uso rotineiro. “Nesses casos, temos que fazer um acompanhamento clínico diário, para avaliar plaquetas e ver se há a necessidade de suspensão da medicação”, esclarece.

Em casa, a recomendação é ingerir muito líquido, para garantir uma boa hidratação. “A dengue provoca inflamação e faz o líquido ‘escapar’ dos vasos sanguíneos e, por isso, a hidratação deve ser muito rigorosa. Além de água, chás, água de coco e suco, é importante ingerir soros, encontrados em farmácias e postos de saúde, para repor os sais perdidos pelo corpo”, salienta a médica.

SINTOMAS

A dengue é transmitida pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti contaminada pelo vírus. Os sintomas iniciais são febre alta, com duração de dois a sete dias; dores de cabeça, no corpo, nas articulações e atrás dos olhos; fadiga; e manchas vermelhas pela pele. Em casos mais graves, são acompanhados de dor abdominal intensa e contínua, vômitos, acúmulo de líquidos, sangramento de mucosa e irritabilidade.

 “Em qualquer uma dessas situações, o mais adequado é não se automedicar e se dirigir a um serviço médico para uma avaliação mais profunda. Serão colhidos exames de sangue, para ajudar a identificar a gravidade do quadro, e o paciente receberá informações de quando voltar ao serviço médico em casos de agravamento e evolução da doença”, conclui.

ESPECIALISTA EXPLICA USO DE REPELENTE POR GRÁVIDAS E BEBÊS

O aumento dos casos de dengue na região gera uma busca desenfreada por maneiras seguras de se proteger da picada do Aedes aegypti. Nas farmácias, as vendas de repelentes dispararam, bem como seus valores. Segundo a Associação Brasileira de Distribuição e Logística de Produtos Farmacêuticos, a Abradilan, algumas redes registraram aumento de até 340% nas vendas entre os meses de novembro de 2023 e janeiro deste ano. Em meio a esse cenário, gestantes e puérperas têm muitas dúvidas, pois a proteção para essas mulheres precisa ser segura também para seus bebês. E uma das dúvidas é: gestantes e recém-nascidos podem usar repelente?

O médico dermatologista Theodoro Habermann Neto, esclarece que, segundo critérios da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, tanto as gestantes quanto os bebês podem usar repelentes, desde que estejam registrados pelo órgão e que as instruções de uso descritas na embalagem sejam seguidas, uma vez que podem variar conforme a concentração da fórmula e seu princípio ativo.

“Alguns estudos e pesquisas científicas sugerem que, para as gestantes, os repelentes à base de DEET (N-Dietil-m-toluamida), os mais vendidos no mercado, são mais seguros. A aplicação deve se restringir a três vezes ao dia. No entanto, este princípio não é recomendado para menores de dois anos. Já entre crianças de dois a 12 anos, a concentração tem de ser de no máximo 10%. Acima disso, o uso é permitido para crianças a partir dos 12”, explica o especialista.

Segundo Habermann, o mercado oferece repelentes a base de icaridina e IR3535, além de óleos essenciais à base de citronela; porém, não há estudos que comprovem sua segurança para o uso por parte de gestantes e bebês. O médico também ressalta que ler as embalagens é essencial, pois elas trazem informações sobre os casos em que o produto é contraindicado.

Para gestantes que utilizam hidratante, ele lembra que já existem produtos com as duas funções – hidratação e repelente. Mas, caso a preferência seja usá-los separadamente, a ordem correta deve ser primeiro o repelente, esperar que ele seque na pele e, depois, o hidratante por cima, para que possa selar o protetor. “É importante evitar os exageros e, em caso de alergia, suspender imediatamente o uso e procurar um dermatologista credenciado pela Sociedade Brasileira de Dermatologia”, orienta.

AMBIENTE

O uso de inseticidas em spray e aerossol são boas opções para repelir insetos. “A recomendação é aplicar no ambiente antes de entrar, para que não haja perigo de intoxicação. Para os bebês, a tela mosquiteira e roupinhas longas ajudam na proteção”, destaca o médico.

Os repelentes de aparelhos elétricos ou espirais não devem ser usados em áreas de pouca ventilação, nem na presença de pessoas asmáticas ou com alergia respiratória, pois podem piorar os quadros alérgicos. O recomendado é que estejam, pelo menos, a dois metros de distância das pessoas. Já os inseticidas naturais, à base de citronela, andiroba e óleo de cravo, não possuem comprovação de eficácia e nem aprovação pela Anvisa até o momento. Por isso, é bom não utilizá-los.

“A prevenção mais eficaz contra a dengue continua sendo a eliminação dos focos de proliferação dos mosquitos. É importante que a população verifique de forma adequada o armazenamento de água, o acondicionamento do lixo, elimine recipientes sem uso que possam acumular água ou os mantenham virados de cabeça para baixo, para evitar os criadouros do mosquito. Essas práticas, em conjunto com as ações municipais de cuidados com coleta de lixo, fiscalização, dentre outras, é que surtirão os maiores efeitos para manter a saúde”, conclui Habermann.  

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