MPT começa a receber denúncias de assédio eleitoral em empresas da região de Campinas
Prática tem como finalidade intimidar o trabalhador a votar
em determinado candidato, por meio de ameaças e tentativas de coação; já existe
demanda reprimida de denúncias, e a proximidade das eleições deve trazer outros
casos
Da Redação | Tribuna Liberal
O MPT (Ministério Público do Trabalho) começou a receber
denúncias de assédio eleitoral contra empresas e instituições do setor público
localizadas na região de Campinas e interior paulista. A expectativa é que haja
um aumento em relação às eleições de 2022, quando foram recebidas 277
denúncias. Até o momento, o MPT registrou 10 denúncias sobre o tema, entre
elas, em cidades da região de Campinas.
Em 2022, as irregularidades apontadas ao MPT ocorreram
majoritariamente entre o primeiro e o segundo turno das eleições presidenciais
e resultaram em 38 TACs (termos de ajustes de conduta), oito ações judiciais e
104 notificações recomendatórias.
Para a coordenadora regional de Promoção da Igualdade de
Oportunidades e Eliminação da Discriminação no Trabalho, Fabíola Junges Zani,
já existe uma demanda reprimida de denúncias de assédio, e a proximidade das
eleições deve trazer à tona casos de coerção eleitoral e práticas de
clientelismo, especialmente no setor público.
“Servidores e terceirizados de prefeituras, que costumam ter
um vínculo de emprego mais precário, se sentem pressionados a votar em
determinado candidato para permanecerem em seus cargos. Da mesma forma, o
assédio pode ocorrer dentro das empresas quando há um candidato de preferência
dos superiores hierárquicos ou que tenha até um nível de parentesco com o chefe
ou proprietário da empresa, o que resulta em tentativa de coação dos subordinados,
e até em ameaças de demissão caso eles não votem em determinado candidato”,
explica.
O MPT lançou a campanha de combate ao assédio eleitoral: “O
voto é seu e tem a sua identidade”. Ela visa conscientizar a sociedade sobre os
prejuízos do assédio eleitoral, tanto no ambiente de trabalho, como para o
Estado Democrático de Direito.
A campanha, iniciada no perfil do MPT Campinas no Instagram,
contará com peças para internet, TV, rádio, além de um documentário sobre o
tema. O conteúdo reforça que nenhum empregador pode definir ou influenciar o
trabalhador a votar em seu candidato de preferência e que ameaças de demissões,
promessas de vantagens e benefícios ou qualquer outro ato que constranja e que
se valha do poder diretivo para desequilibrar as eleições, será combatido.
O procurador-geral do Trabalho, José de Lima Ramos Pereira,
lembra que o “MPT se deparou com números alarmantes e casos emblemáticos de
assédio eleitoral contra trabalhadores” e demonstra preocupação com as eleições
que se avizinham. “O prognóstico para as eleições que se aproximam, além de não
ser diferente, é, inclusive, mais grave. Estamos estabelecendo parcerias com
instituições como o Tribunal Superior Eleitoral e os Tribunais Regionais
Eleitorais para reforçar e ampliar nossa atuação”, conclui.
Apesar de a prática remontar aos tempos do coronelismo, foi
em 2022 que o termo “assédio eleitoral” passou a existir. A coordenadora
nacional de Promoção de Igualdade de Oportunidades e Eliminação da
Discriminação no Trabalho do MPT, Danielle Olivares Corrêa, explica que a
prática se diferencia do assédio moral por orientação política por ter uma
finalidade específica: alterar o resultado de um determinado pleito eleitoral.
“Ele tem como objetivo desequilibrar essa igualdade entre os
candidatos em razão do apoio da estrutura empresarial e da utilização da
pressão, da ameaça e da coação para que um grupo de trabalhadores mude a sua
orientação política”, argumenta.
O assédio eleitoral ocorre sempre que há uma intimidação do
empregador, utilizando de sua estrutura empresarial e de seu poder diretivo,
para modificar o voto do trabalhador a ele vinculado.
São exemplos de assédio eleitoral: ameaça de demissões a
depender do resultado das eleições; obrigar a utilização de uniformes alusivos
a determinado candidato; incentivos financeiros ou promessas de promoção
condicionados à vitória de determinado candidato; reuniões internas com o
objetivo de mobilizar o voto dos trabalhadores; proibir a locomoção do
empregado no dia da eleição, impedindo-o de votar.
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