Dall’Orto participa de reunião com pastor investigado por corrupção no MEC
Empresário e ex-candidato a prefeito de Sumaré esteve em Brasília, com o então ministro da Educação, Milton Ribeiro, o pastor Arilton Moura e o prefeito de Dracena para destravar verbas para construção de escolas
O empresário e advogado Guilherme Dall’Orto, de Sumaré, participou de reunião com o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, e o pastor Arilton Moura, investigados pela Polícia Federal por suposto esquema de corrupção para liberação de recursos do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), vinculado ao MEC (Ministério da Educação). O encontro, realizado no dia 30 de novembro de 2021 – junto com o prefeito de Dracena (SP), André Kozan Lemos (Patriotas) e assessores -, teve o objetivo destravar recursos para obras na área de educação para a cidade de Dracena (SP). Dall’Orto foi candidato a prefeito de Sumaré no pleito de 2020 e deve disputar as eleições deste ano para deputado federal.
De acordo com notícia divulgada pelo site da Prefeitura de Dracena, no dia 02 de dezembro de 2021, Dall’Orto teria ajudado a intermediar a reunião no MEC e, por isso, fazia parte da comitiva que acompanhou o prefeito no encontro, representando o deputado federal Coronel Tadeu (PL-SP).
A imagem da reunião de Dall’Orto com o ex-ministro, o pastor e o prefeito de Dracena ganhou destaque na edição do Jornal Nacional do dia 25 de março. Na época do encontro, em novembro, a foto que registra a reunião e a participação do empresário foi divulgada pelo próprio Ministério da Educação e no site da Prefeitura de Dracena. O empresário também divulgou o resultado da reunião, em Brasília, nas suas redes sociais, no dia 03 de dezembro.
Prefeitos acusam os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos de encabeçarem um esquema no Ministério da Educação para facilitar a liberação de verbas para correligionários do presidente Jair Bolsonaro (PL), embora os religiosos não sejam funcionários do órgão federal.
O Jornal O Estado de São Paulo foi o primeiro a denunciar o caso, na edição do dia 18 de março. Há relatos de chefes do Executivo municipal, de várias cidades do País, de pedido de propina, por parte dos pastores, para liberar verba do FNDE para os municípios (veja histórico nesta página).
A Prefeitura de Dracena é uma das citadas como beneficiadas na liberação de recursos financeiros por influência do pastor Arilton Moura. Após a reunião no MEC, no dia 30 de novembro, o então ministro confirmou, em fevereiro, a construção de um colégio cívico militar na cidade e recursos para uma nova escola, conforme divulgado pela Prefeitura.
Em reportagem publicada pelo Portal Metrópoles (www.metropoles. com), no último dia 22 de março, o prefeito de Dracena admite a participação do pastor Arilton na reunião no MEC e que “achava que ele (pastor) era funcionário do ministro”. “O ministro foi muito bacana. Ele já conhecia a cidade e tem afinidade com o pessoal da igreja dele aqui em Dracena. Ele veio aqui, conseguimos a construção de uma escola e um colégio cívico militar”, declarou o prefeito ao site.
“Na ocasião, eu convidei mais de 40 prefeitos da minha região, que também compareceram e receberam orientação de como pleitear novas obras no MEC”, completou o chefe do Executivo de Dracena ao Portal Metropolis. Depois, em reportagem publicada pelo Jornal Folha de S. Paulo, no dia 24 de março, a Prefeitura de Dracena afirma, em nota, “que a reunião não foi agendada pelo pastor”.
OUTRO LADO
Procurado pela reportagem do Jornal Tribuna Liberal, Guilherme Dall’Orto respondeu por meio da sua assessoria, que “a informação é mentirosa, ardilosa e fruto de interesses eleitorais espúrios”.
Dall’Orto disputou as eleições de 2020 para prefeito pelo partido Patriotas. Obteve 14.619 votos, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
BOCA NO TROMBONE
Prefeitos que admitiram ter recebido pedidos de propina feitos pelos religiosos:
– Gilberto Braga – Luis Domingues (MA);
– Kelton Pinheiro – Bonfinópolis (GO)
– José Manoel de Souza – Boa Esperança do Sul (SP).
Prefeitos que admitiram que só chegaram ao MEC por meio dos pastores:
– Nilson Caffer – Guarani D’Oeste (SP)
– Adelícia Moura – Israelândia (GO);
– Laerte Dourado – Jaupaci (GO);
– Doutor Sato – Jandira (SP);
– Fabiano Moreti – Ijaci (MG);
– André Kozan Lemos – Dracena (SP) – cuja reunião contou com a participação do empresário Guilherme Dall’Orto, de Sumaré.
– Edmario de Castro Barbosa – Ceres (GO).
Denúncia de corrupção envolvendo ministro vem à tona
No dia 22 de março, reportagem do Jornal O Estado de São Paulo traz reportagem sobre denúncias de corrupção envolvendo o então ministro da Educação, Milton Ribeiro, e pastores evangélicos para facilitar a liberação de recursos a prefeituras.
Antes, dia 18, o jornal já havia publicado reportagem sobre a existência de um gabinete paralelo no MEC, comandado por religiosos evangélicos.
Segundo prefeitos, em troca da liberação de recursos, os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos teriam pedido dinheiro e até ouro a prefeitos. Os religiosos não são funcionários do MEC, mas fazem parte da base de apoio de Bolsonaro.
A denúncia ganhou mais repercussão com a divulgação de uma gravação em que o próprio ministro Milton Ribeiro admite que o presidente Bolsonaro pediu que ele liberasse verbas intermediadas pelos pastores.
Conforme divulgado pela imprensa, mesmo sem cargo público, os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura tinham trânsito livre no ministério e costumavam marcar encontros de prefeitos com o ministro. Segundo as denúncias, eles prometiam facilitar a liberação de recursos da educação para municípios em troca de favores.
Diante desses fatos, a ministra do STF (Supremo Tribunal Federal), Cármen Lúcia, autorizou a abertura de inquérito pedido pelo MPF (Ministério Público Federal) para apurar o envolvimento do então ministro da Educação, Milton Ribeiro, com os pastores. A Polícia Federal conduz a investigação e vai ouvir todos os envolvidos.
No dia 28 de março, Milton Ribeiro pede demissão do cargo de Ministro da Educação, após reunião com Bolsonaro.
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