Com dívida de R$ 175 milhões, Murilo Rinaldo cria 15 cargos comissionados
Vereadores de Monte Mor aprovaram proposta do prefeito em regime de urgência por 11 votos a 1 em meio a discussão sobre falta de transparência nos salários que ocupantes dos novos cargos irão receber; Executivo elogia próprio projeto
Paulo Medina | Tribuna Liberal
A Câmara de Monte Mor aprovou na noite de segunda-feira
(17), em regime de urgência especial, por 11 votos a um, projeto de lei
encaminhado pelo prefeito Murilo Rinaldo (PP), que altera a estrutura
administrativa da prefeitura e cria 14 cargos de secretário-adjunto e um de procurador-geral
adjunto, mesmo com a prefeitura tendo um rombo de R$ 175 milhões nas contas
públicas. Os custos dessa operação são mantidos sob sigilo pela equipe do
prefeito, que não detalhou os salários dos cargos nem para a Câmara, nem para a
reportagem do Tribuna Liberal. Há reclamação de parlamentares alegando falta de
transparência do Executivo.
Os secretários municipais possuem salário de R$ 14,1 mil
mensais. Hipoteticamente, para efeito de comparação, se os novos cargos
contarem com remuneração de aproximadamente R$ 10 mil mensais, somente esses 15
cargos criados vão gerar um custo anual de quase R$ 2 milhões aos cofres da
prefeitura, que acumulam dívidas.
O projeto de lei de Rinaldo propôs modificações na Lei nº
1.535, de 12 de maio de 2011, reestruturando setores da administração municipal
e criando novas funções. De acordo com o texto aprovado, os
secretários-adjuntos atuarão na gestão das secretarias municipais, assessorando
os titulares das pastas, planejando estratégias e podendo substituí-los em eventuais
ausências ou afastamentos.
O texto aprovado inclui na estrutura da administração
municipal além dos cargos de secretário-adjunto, o de procurador-geral adjunto,
que é o 15ª cargo criado pelo projeto. Ambos os cargos são comissionados.
O procurador-geral adjunto desempenhará papel semelhante dentro da Procuradoria-Geral do Município, apoiando o procurador-geral e assegurando o cumprimento de políticas jurídicas da administração. Para ocupar as funções é exigido formação superior. A aprovação do projeto gerou debates na Câmara Municipal, principalmente devido ao impacto financeiro da criação dos novos cargos.
O prefeito afirmou que a criação dos cargos visa “fortalecer
a administração”. “A criação dos cargos de secretários municipais adjuntos tem
por objetivo fortalecer a administração pública por meio da integração de
profissionais com formação em nível superior e competências voltadas à gestão
pública estratégica. Essa iniciativa se alinha aos princípios constitucionais
da eficiência administrativa, permitindo que os serviços públicos oferecidos à
população sejam aprimorados. Com a atuação de secretários adjuntos, será
possível implementar políticas públicas com maior planejamento, monitoramento
de resultados e alinhamento entre as demandas administrativas e as estratégias
político governamentais”, alegou o prefeito na justificativa do projeto.
Rinaldo disse que “trata-se de uma necessidade de mudança no
perfil da equipe governamental, diante da necessidade elevar o nível de gestão
especialmente para enfrentarmos os desafios que permeiam a exigência de maior
efetividade nos serviços públicos colocados à disposição da população de Monte
Mor e reiteradamente cobrado pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo
através do Índice de Efetividade da Gestão Municipal – IEGM”.
A fim de “balancear” a proposta, Rinaldo destacou que o
projeto também promove a extinção de quatro cargos de assessor institucional,
“mitigando parcialmente os efeitos”. A proposta ainda transfere a Diretoria de
Suprimentos, Licitações e Compras que atualmente está lotada na Secretaria
Municipal de Administração para a Secretaria Municipal de Finanças, “com o
objetivo de otimizar os processos de aquisições e contratações aproximando
estes do controle e da gestão orçamentária e financeira”.
Para o prefeito, o projeto “representa um avanço
significativo na organização administrativa do município, pautado nos
princípios constitucionais e na busca por uma gestão pública mais moderna”.
Prefeito faz mistério e não divulga salário dos novos cargos
O prefeito Murilo Rinaldo (PP) optou por fazer mistério e
não divulgar os valores salariais dos 15 cargos comissionados criados por ele
após aprovação legislativa. Questionada pela reportagem nesta terça-feira (18),
a prefeitura informou apenas que os valores “estarão disponíveis no Portal da
Transparência”, o que já é uma informação obrigatória por lei a ser
disponibilizada pelo município.
Nos bastidores políticos, há pressão para que os dados sejam
divulgados, permitindo que a população tenha acesso detalhado aos valores a
serem pagos com dinheiro público. Vereadores já demonstram interesse em
fiscalizar os valores e assunto deve ganhar repercussão nas próximas sessões
legislativas.
Prefeitura de Monte Mor acumula dívidas com fornecedores e
IPREMOR
Levantamento da Prefeitura de Monte Mor aponta que o
município totaliza uma dívida de R$ 175 milhões, o que representa 38,7% do
orçamento previsto para 2025. Os débitos que a prefeitura tem incluem R$ 80
milhões junto ao Instituto de Previdência Municipal de Monte Mor (IPREMOR),
dívidas como a coleta de lixo (cerca de R$ 2 milhões), débitos de linhas
telefônicas, e contratos de serviços essenciais. Estima-se que a dívida com
fornecedores chegue a R$ 20 milhões.
A prefeitura ainda possui dívida milionária com a empresa de
transporte escolar e chegou a R$ 2,5 milhões com a empresa de transporte
coletivo urbano pelo programa Tarifa Zero, além de precatórios.
Vereadora critica projeto e diz que Câmara não pode ser
‘puxadinho do Executivo’
Contrária ao projeto do prefeito, a vereadora Wal da
Farmácia (PSB), criticou a tramitação urgente e a falta de documentos, como a
tabela de remuneração dos cargos. Já Bruno Leite (UNIÃO), líder do governo, e
Professor Adriel (PDT), destacaram a importância da medida para a contratação
de técnicos.
Conforme o Projeto de Lei, tanto os secretários adjuntos
quanto o procurador-geral adjunto vão receber uma remuneração “equivalente à
referência C – 6 – K” da Lei Complementar 12/ 2008. A prefeitura foi
questionada sobre esses valores, que não constavam expressamente no PL
aprovado.
Wal da Farmácia questionou o motivo do pedido de urgência
especial ao projeto. Segundo ela, não há parecer jurídico sobre a propositura e
a Comissão de Redação e Justiça pediu documentos à prefeitura, como a “tabela
remuneratória” e a tabela de referência mencionada no projeto. “Como nós,
vereadores, iremos votar apenas numa referência, sem ter o salário do
subsecretário? Essa Câmara está sendo omissa”, disparou, defendendo um estudo
mais amplo.
Vereadora Wal da Farmácia (PSB) questionou prefeito Murilo Rinaldo sobre projeto
Bruno Leite, relator do projeto na Câmara, frisou o apoio da
Casa ao Poder Executivo. Segundo ele, o prefeito pediu urgência no PL, que, em
seu ponto de vista, cria “cargos técnicos a serem ocupados por pessoas técnicas
dentro do município”. Líder de governo na Casa, o parlamentar ainda disse que
estava dando voto de confiança ao prefeito.
Em outro momento, Wal reiterou sua posição contrária. “Essa
Casa aqui não pode ser um puxadinho do Executivo”, disse. Já o vereador
Professor Adriel (PDT), favorável, citou a emergência de aprovação, pela
carência de “corpo técnico qualificado” no município. Para ele, tais
profissionais teriam a função, inclusive, de trabalhar projetos, inclusive para
combater os baixos salários na prefeitura que recebem menos de R$ 2 mil
mensais.
Falta proposta para enchentes e infraestrutura da cidade foi
abalada
Um mês após ter sua situação de emergência reconhecida pelo
governo federal, Monte Mor ainda não recebeu verba da União por causa da falta
de apresentação de um pedido e projeto formal por parte da prefeitura.
Conforme o Tribuna Liberal noticiou no último domingo, o
Ministério do Desenvolvimento Regional (MIDR) informou que não havia nenhum
pedido de recursos registrado para socorro e assistência humanitária por parte
da administração municipal de Monte Mor.
De acordo com o Ministério, cidades que têm o reconhecimento
federal de situação de emergência ou de estado de calamidade pública podem
solicitar recursos para ações de defesa civil.
Entre dezembro e fevereiro deste ano, as fortes chuvas castigaram
a infraestrutura de Monte Mor, agravando os problemas em diversas ruas, pontes
e causando danos em vários bairros. Em várias regiões, a força da água
prejudicou a pavimentação. Pontes e passagens importantes foram danificadas,
dificultando o deslocamento dos moradores.
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