Merendeira de Monte Mor é resgatada das ruas de Campinas após ação conjunta de sindicatos
Servidora sofre de esquizofrenia há três anos e estava
desaparecida há meses; Justiça determinou que prefeitura ofereça atendimento e
acompanhamento da funcionária
Beto Silva | Tribuna Liberal
Uma história de sofrimento, abandono e resiliência chegou a
um desfecho nesta quinta-feira (21), quando a merendeira C.N., de 47 anos, foi
localizada e encaminhada para tratamento adequado após cinco meses vivendo nas
ruas de Campinas. Servidora da Secretaria de Educação de Monte Mor por 14 anos,
ela foi diagnosticada com esquizofrenia paranoide há três anos, condição que se
agravou durante a pandemia de covid-19.
Nos últimos meses, C.N. passou a perambular pelas ruas da
região central de Campinas, onde foi encontrada em uma situação de
vulnerabilidade extrema. O quadro da servidora chamou a atenção quando ela
entrou na sede do Sindicato dos Servidores de Campinas, em busca de comida.
Comovidos com sua situação e após ouvirem sua história, os representantes do
sindicato entraram em contato com o Sindsmor (Sindicato dos Servidores Públicos
Municipais de Monte Mor).
A partir daí, teve início uma busca incansável liderada por Adelício Paranhos, diretor administrativo do Sindsmor, e Márcia Muniz, presidente da entidade. “Foram dias de procura pelas ruas do centro de Campinas, perguntando a moradores e comerciantes se tinham visto C.N. Algumas pessoas relataram tê-la visto e questionaram se ela era usuária de drogas ou álcool, o que não era o caso. Ela apenas estava em uma situação de saúde mental gravemente comprometida”, contou Paranhos.
Após uma semana de buscas, C.N. foi finalmente localizada na
Praça Carlos Gomes, próxima à Prefeitura de Campinas. A partir da
identificação, foi acionado o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência),
e, com apoio da Guarda Municipal, ela foi conduzida ao Hospital Beneficência
Portuguesa para atendimento.
A internação compulsória foi solicitada pela família, que
conseguiu uma decisão judicial determinando que a Prefeitura de Monte Mor fosse
responsável pelo atendimento adequado à servidora.
“É inadmissível que uma pessoa com 14 anos de serviço
público, mãe de uma criança de 13 anos, ficasse desamparada dessa forma,
exposta às condições adversas das ruas e à violência. Mesmo com a
responsabilidade recaindo sobre a família e a prefeitura, o Sindsmor não
poderia deixar de se empenhar nessa causa, com o apoio crucial do Sindicato dos
Servidores de Campinas”, afirmou Paranhos.
Durante o período em que esteve nas ruas, C.N. ficou sem
salários e sem vale-alimentação, desamparada por completo. Agora, o Sindsmor
tomará as providências necessárias por meio de seu departamento jurídico para
garantir que a servidora receba auxílio-doença e tenha seus direitos
restabelecidos. “Vamos dar todo o suporte a ela e à pessoa que a Justiça
determinar como curadora”, acrescentou o sindicalista.
A prefeitura informou ao Sindsmor que estava ciente do
desaparecimento da servidora e da suspensão de seu salário. No entanto,
ressaltou que não foi aberto nenhum procedimento administrativo para formalizar
a demissão, como seria necessário. O Sindsmor afirmou que, por lei, a
servidora, ainda ativa, deveria estar protegida e receber seus direitos, o que
não ocorreu.
O caso de C.N. expõe a vulnerabilidade de servidores
públicos em situações de saúde mental, reforçando a importância de um apoio
contínuo e adequado por parte dos empregadores e das instituições responsáveis.
A Prefeitura de Monte Mor foi questionada sobre quais medidas vai tomar em
relação a servidora, porém, até o fechamento desta edição não houve retorno.
RELATÓRIO APONTA RISCO À INTEGRIDADE FÍSICA
O relatório médico psiquiátrico assinado pelo médico
psiquiatra Igor Gabriel Assis, do hospital Beneficência Portuguesa, para onde
C.N foi levada ao ser encontrada nas ruas, na última quinta-feira, aponta que a
servidora sofre de esquizofrenia paranoide, sendo que o primeiro surto
aconteceu em 2008, quando ela foi internada em uma instituição de Campinas.
O documento aponta que atualmente, a paciente apresenta novo
surto psicótico muito grave, apresentando discurso e comportamento extremamente
desorganizado, pensamento com conteúdo delirante e juízo de realidade
comprometido.
“A paciente não aceita tratamento voluntário em razão da
própria doença, que afeta gravemente seu discernimento e determinação,
portanto, necessita urgente de internação psiquiátrica involuntária”, destacou
o médico.
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