Usina que transformará lixo em energia deve gerar 1,4 mil empregos na região
Além das ocupações com carteira assinada previstas durante e
pós-construção, empreendimento pode gerar trabalho e renda para catadores de
resíduos recicláveis quando entrar em operação
O projeto de construção da usina de resíduos sólidos que transformará lixo em energia, apresentado pelo Consimares (Consórcio Intermunicipal de Manejo de Resíduos Sólidos), pode gerar 1,2 mil empregos diretos na região, durante a construção, e outros 200 quando entrar em operação, totalizando 1.400 vagas. A futura Central de Tratamento de Resíduos atenderá sete cidades: Sumaré, Hortolândia, Nova Odessa, Monte Mor, Capivari, Elias Fausto e Santa Bárbara d’Oeste, com população estimada em 1 milhão de pessoas.
De acordo com superintendente do Consimares, Valdemir Ravagnani, o Mimo, as oportunidades de emprego podem ser ainda maiores se contabilizadas as vagas indiretas que podem surgir com o empreendimento.
Ravagnani informou que depois de construída e em operação, a usina vai gerar 200 postos de trabalho diretos. Também deve criar mais trabalho e renda para 450 catadores de recicláveis, por meio do sistema de cooperativa. Uma delas já está prevista para funcionar nas dependências da Central de Tratamento de Resíduos.
Ravagnani estima que serão necessários, no mínimo, outros 15 barracões no âmbito do Consórcio, além do galpão que funcionará na planta da usina, para atender o índice de reciclagem determinado no Plano Intermunicipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos do Consimares e do Planares (Plano Nacional de Resíduos Sólidos). “Cada cooperativa terá, no mínimo, 30 pessoas trabalhando”, adianta o superintendente.
Atualmente, o projeto está em fase de análise do estudo de impacto ambiental pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo). Para virar realidade, além da aprovação dos órgãos ambientais, a proposta precisa do aval dos prefeitos e vereadores da região, além da realização de audiências públicas com a comunidade.
O projeto prevê a construção da Central de Tratamento de Resíduos em um terreno de 70 mil m², localizado na altura do quilômetro 116 da Rodovia Anhanguera, em Nova Odessa. A URE (Unidade de Recuperação Energética) terá capacidade para processar até 700 toneladas por dia de resíduos sólidos, segundo o Consimares.
Além disso, produzirá 160 mil MWH/ano de energia elétrica, o suficiente para abastecer 500 mil habitantes, metade da população da área de abrangência do Consórcio. O investimento estimado é de R$ 500 milhões, conforme já noticiado pelo Tribuna Liberal.
Para transformar os resíduos em energia elétrica, a URE utilizará a tecnologia mass-burning, com queima em grelha móvel e recuperação do potencial energético dos rejeitos. Segundo o Consórcio, existem pelo menos 2 mil unidades de grande e médio porte desse tipo de usina em operação no mundo.
O complexo de gerenciamento de resíduos sólidos do Consimares prevê, também, a construção de um galpão para separação e triagem de resíduos da coleta seletiva, com capacidade para receber 900 toneladas por ano. Também haverá uma área destinada à compostagem de resíduos orgânicos, gerados pelas podas de árvores, praças, canteiros e limpeza de feira livre, com capacidade para 2.190 toneladas/ano.
“É uma solução experimentada com sucesso em vários países. A usina terá capacidade para fazer o tratamento e destinação final dos resíduos pelos próximos 30 anos. Essa iniciativa, por meio de um grupo de municípios, é pioneira. Seria o primeiro empreendimento desse tipo na América Latina”, valoriza o superintendente.
Segundo o Consimares, essa tecnologia é mundialmente reconhecida como a única capaz de mitigar as emissões de gases de efeito estufa produzidos nos aterros sanitários.
Além disso, com a reciclagem de 99% do volume tratado, evita-se a contaminação do solo e lençóis freáticos, eliminando também odores desagradáveis, contaminantes e presença de animais e insetos no perímetro.
Inicialmente, a previsão era de que as obras da usina começassem no segundo semestre deste ano, com início de operação programado para 2025. “Neste momento, queremos dialogar e conscientizar os municípios da importância da usina para a gestão dos resíduos sólidos. A função do consórcio é buscar e propor soluções, agora depende dos prefeitos e vereadores”, afirma Ravagnani.
Geração de resíduos cresce ano a ano na região, revela diagnóstico
Dados estatísticos do Plano Intermunicipal de Gestão de Resíduos Sólidos do Consimares, divulgados em 2021, mostram a tendência de aumento da geração de resíduos sólidos urbanos na região ocasionado, principalmente, pelo crescimento populacional.
Em 2012, aponta o estudo, os sete municípios do Consimares, juntos, tinham 778.554 habitantes. Em 2020, esse número saltou para 910. 885 pessoas morando nessas cidades.
Ao mesmo tempo em que a população aumenta, cresce a geração de resíduos. Em 2012, a produção per capita de resíduos era de 0,6462 por dia. Em 2020, cresceu para 0,7551.
Em 2012, as sete cidades do consórcio geravam 503, 8 toneladas de resíduos por dia. Em 2020, passou para 662,47. De acordo com o Plano do Consimares, a população dessas cidades crescem, em média, 2% ao ano.
Cooperativas de reciclagem são fundamentais, diz Consimares
Para o superintende do Consimares, investimentos em coleta seletiva, por meio da oferta de estrutura e incentivo para formação de cooperativas, são fundamentais para o sucesso na gestão dos resíduos sólidos nos próximos anos.
“O aumento de geração de resíduo é uma realidade no mundo inteiro porque a população cresce e, quanto melhor a economia, melhor o poder aquisitivo das pessoas, que gera mais acesso ao consumo. A usina será feita para processar 700 toneladas por dia. Ela (usina) não cresce. Então, temos que tirar esse aumento (de resíduos produzidos) na reciclagem”, observa Ravagnani.
Ele cita os municípios de Santa Barbara d´ Oeste, Nova Odessa, Sumaré e Hortolândia como exemplos de cidades que já realizam a coleta seletiva por meio de cooperativas, cujo índice de reciclagem de materiais atende ao recomendado pelo Planares. Porém, é preciso aumentar, observa o superintendente do Consimares.
“Os municípios que não têm vão ter que implementar a coleta seletiva por meio de cooperativa. A própria política nacional diz que os catadores têm a preferência, então nós vamos, sim, privilegiar os catadores. São pessoas fundamentais”, diz Ravagnani.
“E esses catadores vão formar cooperativas, associações, vamos capacitar esse pessoal. Essa é uma função que cabe ao Consórcio e ao poder público. Assim, vamos poder ampliar as oportunidades de trabalho e renda para essas pessoas”, completa o superintendente.
Diagnóstico do Consimares revela que dos sete municípios do consórcio, somente quatro (Sumaré, Hortolândia, Nova Odessa e Santa Bárbara d´Oeste) realizam a coleta seletiva de resíduos sólidos. Juntas, essas cidades comercializam 203,71 toneladas de recicláveis por mês, informa o relatório.
Ravagnani exemplifica que dentro desta proposta, Hortolândia e Sumaré, que são os municípios com maior população do consórcio, vão precisar de, no mínimo, mais quatro barracões de reciclagem de resíduos, cada um, fora os que já existem. “Nós temos um horizonte de 20 anos para implementar isso, mas a ideia é não esperar todo esse tempo”, afirma o superintendente do Consimares.
Usina seria solução diante do fim da vida útil dos aterros sanitários
De acordo com o Consimares, a ideia da usina surgiu diante da necessidade de se buscar um destino mais sustentável para os resíduos sólidos, “que crescem exponencialmente, ao mesmo tempo em que os aterros sanitários da região estão próximos do fim de sua vida útil”.
Atualmente, os resíduos sólidos urbanos gerados pelos municípios de Nova Odessa, Capivari, Hortolândia e Sumaré são levados para o aterro da Estre, na cidade de Paulínia. Monte Mor e Elias Fausto encaminham para o aterro Corpus, em Indaiatuba. Santa Bárbara d’Oeste tem aterro municipal.
De acordo com o Consórcio, a proposta da usina atende à orientação do Planares, que incentiva o tratamento térmico dos resíduos, com tecnologias capazes de transformar lixo em energia elétrica.
É que, apesar de os aterros sanitários serem a forma mais simples de destinação final do lixo, eles não têm como objetivo o tratamento ou reciclagem dos materiais presentes no lixo urbano, sendo somente uma forma de armazenar os resíduos no solo. Assim, causam impactos ambientais como vazamento de líquidos e gases que contaminam o ar, o solo e o lençol freático.
Segundo ambientalistas, mesmo depois de desativados, os aterros sanitários continuam produzindo gases e líquidos prejudiciais ao meio ambiente. A vida útil de um aterro sanitário é de cerca de 20 anos.
Entre as vantagens do sistema de incineração de resíduos apontadas pelo Consimares estão a destruição de substâncias e materiais perigosos para o meio ambiente, produção de energia elétrica, geração de trabalho e renda por meio da reciclagem de resíduos.
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