Sinduscon vê cenário de dificuldades e incertezas no setor de construção civil
Conjunção de fatores internos e externos impacta nos
investimentos e na geração de empregos
A cesta das variáveis que impacta a economia e a indústria da construção está maior que nos últimos anos. Há uma reorganização logística precária, a China nunca foi tão importante como é hoje, a guerra da Rússia contra a Ucrânia provoca desabastecimento de óleo, gás e trigo, e no Brasil há esgotamento da capacidade de investimento do poder público.
A renda tem caído, a taxa de juros vem subindo muito, há dependência grande de financiamento de bens de consumo, afastando a possibilidade de uma recuperação um pouco mais sustentada da economia.
A análise foi feita por Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia do SindusCon-SP, na reunião de Conjuntura da entidade, em 4 de maio, conduzida por ele e com a participação do presidente da entidade, Odair Senra.
De acordo com Zaidan, a redução do pessimismo que se vê nas sondagens da construção é muito mais uma esperança, no sentido de que a conjuntura não pode ficar pior do que já está. “Estamos aumentando o grau de dependência do exterior, os salários estão mais baixos, a população está cada vez mais deseducada, dificultando a produtividade.
O cenário eleitoral não vai se definir antes de agosto e até lá haverá incerteza. Após a eleição teremos um ajuste [na condução da política econômica] no primeiro ano de mandato do novo governo, que talvez não seja favorável à indústria da construção. E há notícias de que construtoras já informam às incorporadoras a necessidade de reequilíbrio econômico-financeiro dos contratos”, afirmou o vice-presidente.
“Há muitas dores a enfrentar”, comentou Odair Senra, informando que o SindusCon-SP iniciou uma nova rodada de reuniões com fornecedores da indústria da construção, para estudar como mitigar os efeitos das elevações de preços dos materiais.
Na avaliação do diretor da Regional Campinas do SindusCon-SP, Marcio Benvenutti, no primeiro quadrimestre do ano, “o cenário é de muitas incertezas para o setor da construção civil, motivados pela expectativa de um período eleitoral com muita turbulência, elevação dos juros e da inflação, aumento no preço das matérias-primas e carência de mão de obra qualificada”.
Por outro lado, o diretor do SindusCon-SP Campinas afirma que são importantes ações no sentido de melhorar o ambiente de negócios e que ajudem as empresas do setor a investir em novos empreendimentos. Benvenutti cita, como exemplo, a Lei Empreendimento Habitacional de Interesse Social (Ehis-Cohab), sancionada recentemente pela Prefeitura de Campinas, que busca estabelecer normas e incentivar parcerias com a iniciativa privada, para a construção de empreendimentos habitacionais de interesse social.
“Precisamos buscar ações concretas que contribuam para movimentar o setor da construção, que gera muitos empregos e movimenta uma enorme cadeia produtiva”, justifica.
Oferta de crédito imobiliário teve redução
Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV/Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), observou em sua apresentação que alguns fatos preocupam. O aumento dos preços dos imóveis novos reflete em grande parte o aumento dos custos dos materiais.
O volume de crédito imobiliário declinou, com mais intensidade nos imóveis novos, motivado pela diminuição de renda das famílias e pelos critérios mais restritivos dos bancos nas concessões de financiamentos. As obras de infraestrutura não estão crescendo muito, apesar do ano eleitoral.
Estimativa da FGV situa o crescimento do PIB da construção (incluindo o setor informal) em 12% no acumulado de 12 meses. Entretanto, Ana Maria considera prematuro fazer uma revisão da estimativa anterior de crescimento do PIB da construção para 2022, de cerca de 4%, uma vez que a produção e o comércio de materiais vêm se reduzindo.
Apesar da inflação resiliente, acrescentou, pode ser que as medidas de estímulo ao consumo acabem elevando a produção e o comércio de materiais. Se não houver novos sobressaltos, ela estimou que o INCC deverá fechar o ano com elevação de cerca de 10%. O custo dos materiais voltou a ter mais assinalações que a demanda insuficiente, na Sondagem da Construção.
Embora o ritmo de aumento dos preços desses insumos esteja em ritmo inferior ao do ano passado, eles ainda se mantêm em níveis elevados, pressionando os custos das obras, observou Ana Maria.
Ela informou que o Banco Mundial projeta uma elevação dos preços de commodities, com exceção do minério de ferro. O cenário é complexo, por conta das consequências das altas de juros no Brasil e nos Estados Unidos sobre o câmbio. E neste mês devem ocorrer os reajustes de salários na construção.
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