Rio Capivari vira ‘tapete de lixo’ em Monte Mor e requer solução integrada
Uma grande quantidade de detritos se acumulou em trecho urbano do rio, próximo do antigo prédio do Centro de Zoonoses, na rua Nicola Forchetti
Beto Silva | Tribuna Liberal
Nas últimas semanas, o aumento das chuvas na região trouxe à
tona um problema ambiental recorrente na cidade de Monte Mor: o acúmulo de lixo
no rio Capivari. Um verdadeiro tapete de detritos se formou no trecho urbano,
nas proximidades do antigo prédio do Centro de Zoonoses, na rua Nicola
Forchetti. A situação se tornou visível próximo à travessa de pedestres,
revelando o impacto da poluição que chega de municípios vizinhos.
Em nota, a Prefeitura de Monte Mor confirmou a gravidade da
situação e afirmou estar ciente do acúmulo de lixo durante o período de chuvas,
características que não se restringem ao lixo gerado pelo próprio município.
Segundo a administração municipal, o material é carregado pelas correntezas e
se origina em cidades atravessadas pelo rio Capivari e seus afluentes, como
Campinas. Diante das limitações financeiras, Monte Mor destaca que depende de
apoio externo para realizar disciplinas de maior escala.
Com a chegada do período de chuvas, acúmulo de detritos na região da Ponte da Bombinha se agrava
A prefeitura informou que há anos busca auxílio do Governo
do Estado de São Paulo, dos Comitês das Bacias PCJ e do Programa Rios Vivos
para implementar uma limpeza e desassoreamento do rio Capivari. A administração
enfatiza que ações isoladas não são suficientes para resolver um problema que
afeta diversos municípios ao longo do percurso do rio. Em 2022, segundo a
prefeitura, uma ação de limpeza ocorreu pouco antes das eleições estaduais, com
o uso de maquinário cedido pelo governo. No entanto, após o pleito, o
equipamento foi retirado e Monte Mor, desde então, reforça os pedidos de ajuda
para medidas mais abrangentes.
Embora a Prefeitura tenha promovido a limpeza de afluentes locais, como os córregos Central, Água Choca e Aterrado, o desafio do Capivari, maior e mais complexo, demanda uma colaboração que envolve outras cidades, como Capivari e Rafard.
INTERVENÇÕES DA SP ÁGUAS E DO PROGRAMA RIOS VIVOS
A SP Águas, Agência de Águas do Estado de São Paulo,
informou que realizou recentemente o desassoreamento de afluentes do rio
Capivari. Segundo a agência, em outubro de 2023, retirou 27.491 metros cúbicos
de sedimentos do córrego Água Choca, entre Monte Mor e Capivari; 10.158 metros
cúbicos do córrego Lava Pés, em Capivari; e 11.954 metros cúbicos do Córrego
Central, em Monte Mor. No total, as remoções somam 52.672 metros cúbicos de
sedimentos, volume equivalente a 3.762 caminhões basculantes.
No segundo ciclo do Programa Rios Vivos, foi realizado
também o desassoreamento do rio Capivari no trecho da Ponte Santoro, em
Capivari, com a retirada de 5.726 metros cúbicos de sedimentos, investimento
que totalizou R$ 2,54 milhões.
PCJ E INVESTIMENTOS EM RECURSOS HÍDRICOS
O Conselho dos Comitês das Bacias Hidrográficas dos Rios PCJ
(Piracicaba, Capivari e Jundiai), informou que, ao longo de 30 anos, tornou-se
uma referência na gestão de recursos hídricos. De 1994 a 2024, os Comitês PCJ
destinaram R$886,2 milhões para quase mil empreendimentos em 76 municípios,
investindo desde tratamento de esgoto e controle de perdas de água até
reflorestamento e educação ambiental.
Entre os avanços, o conselho destacou o crescimento do tratamento de esgoto na região, que saltou de 6% em 1993 para 82% em 2022, e a ampliação da coleta, de 50% para 92,6%. Apesar desse progresso, o desafio das perdas na rede de abastecimento ainda persiste, com desperdício de 35 litros de água a cada cem captados, índice que os comitês pretendem reduzir para entre 23% e 26% até 2035.
DESAFIOS E SOLUÇÕES PARA O FUTURO
Monte Mor segue aguardando uma solução definitiva para o
problema do lixo e do assoreamento no rio Capivari, acreditando que a união dos
esforços municipais e estaduais, junto aos Comitês PCJ, será fundamental para
uma ação contínua e eficaz.
O Capivari, que cruza várias cidades antes de Monte Mor, é
um espelho do impacto coletivo da poluição urbana e do descarte inadequado de
resíduos. O município espera que as ações conjuntas, não apenas tragam alívio
para a população local, que convive com os transtornos causados pela poluição e
pelas enchentes, mas também sirva como um passo importante na preservação de um
recurso essencial para toda a região.
Para quem mora próximo ao rio Capivari, em Monte Mor, a
preocupação é constante nesse período de chuvas. O morador Nelson Brasil Filho,
contou que na série de enchentes antes de 2020 era possível uma ‘certa
tranquilidade’ e que a grande maioria dos que moravam nessas áreas conhecia os
limites. A partir do final de 2021, no entanto, vieram enchentes muito severas
e a partir daí é uma preocupação rotineira.
“Descaso dos responsáveis pela prevenção, desconsideraram o
plano diretor de macrodrenagem em três gestões e existem pontos considerados
cruciais para amenizar o problema”, afirmou.
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