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Sumaré é o município da região com mais veículos, somando 208,2 mil unidades motorizadas

Região se aproxima de 550 mil veículos com avenidas abarrotadas

No período de um ano, Sumaré, Hortolândia, Paulínia, Nova Odessa e Monte Mor ganharam frota equivalente à toda população de Engenheiro Coelho, cidade que integra a Região Metropolitana de Campinas, expondo gargalos

Paulo Medina | Tribuna Liberal

A frota de veículos nas cinco cidades da região — Sumaré, Hortolândia, Nova Odessa, Monte Mor e Paulínia — alcançou a marca de 548.728 veículos em dezembro de 2024, segundo dados do Ministério dos Transportes. O número representa um crescimento de 24.852 veículos em apenas um ano, o que supera a população inteira de Engenheiro Coelho, município da Região Metropolitana de Campinas (RMC), que tem cerca de 20 mil habitantes. Com isso, a região atinge uma média de 0,69 veículo por habitante, considerando os 784.332 moradores estimados pelo IBGE nas cinco cidades.

O aumento da frota corresponde a um crescimento de 4,74% em relação a 2023, quando a frota total somava 523.876 veículos. O avanço é expressivo e coloca a mobilidade urbana como um dos principais gargalos regionais para os próximos anos, especialmente considerando a infraestrutura viária ainda limitada.

Entre os municípios analisados, Sumaré lidera com 208.243 veículos registrados, sendo 130.201 carros e 35.100 motos. Hortolândia aparece em seguida com 151.575 veículos, dos quais 98.065 são carros e 25.290 motocicletas. Nova Odessa soma 51.523 veículos (30.901 carros e 8.793 motos), Monte Mor tem 42.587 (26.453 carros e 6.912 motos), enquanto Paulínia registra uma frota de 94.800 veículos, com 55.191 carros e 12.048 motos.

Em comparação com os dados de 2023, todos os municípios apresentaram crescimento na frota. Sumaré adicionou 7.646 veículos em um ano (subindo de 200.597 para 208.243), Hortolândia teve um acréscimo de 7.812 (de 143.763 para 151.575), Nova Odessa aumentou em 2.220 (de 49.303 para 51.523), Monte Mor registrou mais 2.490 veículos (de 40.097 para 42.587), e Paulínia adicionou 4.684 veículos à sua frota (de 90.116 para 94.800).

Especialistas apontam diversos fatores para explicar esse crescimento acelerado. O primeiro deles é o avanço da urbanização e o aumento populacional da região, impulsionados pela presença de polos industriais, centros logísticos e universidades. Além disso, a oferta ainda limitada de transporte público de qualidade, especialmente em bairros mais afastados ou durante horários alternativos, faz com que muitas pessoas optem pelo transporte individual.

Outro ponto é o fácil acesso ao crédito e ao financiamento de veículos, com taxas mais acessíveis nos últimos anos. Isso tem impulsionado tanto a compra de carros quanto de motos. O crescimento das motocicletas, inclusive, chama atenção: elas têm ganhado espaço por seu custo reduzido e pela forte presença de entregadores e trabalhadores por aplicativos, fenômeno que se intensificou após a pandemia.

O pesquisador do Programa de Pós-doutorado em Engenharia de Transportes da Unicamp, Luiz Vicente Figueira de Mello Filho, detalhou ao Tribuna Liberal os desafios que a frota elevada impõem à região.

“Os desafios é o poder público fazer licitações, editais de transporte público que sejam atrativos tanto para quem está contratando, como as prefeituras, como também a questão relacionada à atratividade das pessoas a voltarem a utilizar o transporte público, quer dizer, tem que valer a pena. E como vale a pena? Pensando principalmente na questão de repasse de subsídios para o transporte público que seja atraente para o cliente final”, considerou.

“O outro ponto que eu também gostaria de contribuir é que o veículo, o automóvel ou a motocicleta, não são o vilão desse contexto todo. Por quê? Porque se nós tivéssemos já uma linha de trem como Intercidades, se a gente tivesse já o VLT ligando uma linha a Campinas, outros projetos de trilhos, mas também de renovação da frota dos ônibus, uma compatibilização que pudesse contribuir com a migração para o transporte coletivo”. O especialista citou que as pessoas estão intensificando o uso dos automóveis e das motocicletas, o que tem impactado “bastante” o trânsito das cidades da região.

TRANSPORTE DE QUALIDADE

Para reverter esse cenário, Mello Filho defende investimentos estratégicos no transporte público, com foco na atratividade e eficiência do serviço. “É essencial que as empresas de transporte público recebam subsídios adequados para oferecer um serviço de qualidade. Quando falo em qualidade, me refiro à frequência dos ônibus, pontualidade, previsibilidade e conforto”, explicou.

Segundo ele, só assim será possível estimular uma migração inversa — das pessoas que hoje usam carro para o transporte público. “O cidadão precisa confiar que vai chegar no horário, que o ônibus vai passar com frequência e que o serviço é digno. Sem isso, o carro continuará sendo a primeira escolha.”

PESQUISADOR PÕE PAULÍNIA COMO EXEMPLO NO TRANSPORTE COLETIVO  

Paulínia tem se destacado na Região Metropolitana de Campinas (RMC) como referência em transporte público, segundo o pesquisador Luiz Vicente Figueira de Mello Filho. Ele apontou o município como um exemplo de gestão acessível e moderna na área de mobilidade urbana.

“A cidade de Paulínia possui uma frota de ônibus nova, com tarifas simbólicas de apenas um real para qualquer destino dentro do município, graças a um subsídio bem estruturado. Isso torna o transporte público local altamente atrativo para a população”, afirmou Mello Filho.

Contudo, o especialista também destacou um importante desafio enfrentado por moradores da cidade: a mobilidade intermunicipal. “Por outro lado, temos uma dificuldade para aquelas pessoas que trabalham em outras cidades e residem em Paulínia. Nesse caso, o transporte disponível é feito por ônibus da EMTU, que já não apresentam a mesma qualidade de serviço. Como resultado, há uma intensiva utilização de automóveis nas estradas da região”, alertou.

Para Mello Filho, garantir um transporte público atrativo e funcional estimula o uso consciente do automóvel. “Quando existe essa alternativa de qualidade no transporte coletivo, as pessoas podem reservar o carro para situações em que ele realmente faz a diferença — como ir ao supermercado ou levar um ente querido ao hospital”, explicou.

Ele também reforçou a importância do transporte escolar como solução para reduzir o trânsito nos horários de pico. “A ida ao trabalho e o transporte das crianças à escola poderiam ser feitos por ônibus, o que contribuiria consideravelmente para a fluidez do trânsito nas cidades da Região Metropolitana de Campinas”, concluiu.         

HORTOLÂNDIA OFERECERÁ ÔNIBUS ELÉTRICOS A USUÁRIOS DO TRANSPORTE COLETIVO

Hortolândia confirmou nesta semana, ao sediar a 92ª edição do Fórum Paulista de Secretários e Dirigentes Públicos de Mobilidade Urbana, oito novos veículos elétricos para o transporte público municipal que, de acordo com a Secretaria de Mobilidade Urbana, serão entregues à cidade até o final deste mês.

“Pensar no agora e também no futuro e trocar ideias e experiências fortalece ainda mais o trabalho que oferecemos para a população. Também podemos ver estes novos ônibus que serão utilizados em breve pela população. Veículos novos, bonitos, confortáveis e sustentáveis. Transporte público de qualidade, mais ônibus nas linhas, com menor custo ao município ajuda a população. Realmente, é gratificante participar de um evento desta magnitude”, comentou o prefeito Zezé Gomes (Republicanos) durante o fórum.

Desde 2017, com a criação da Secretaria de Mobilidade Urbana da Prefeitura, Hortolândia melhora, gradativamente, os índices de segurança viária com ações realizadas pela Administração Municipal. Os números de acidentes viários dentro dos limites do município registram queda. De acordo com dados do Infosiga (Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito do Estado de São Paulo), em 2024, Hortolândia foi a cidade com mais de 200 mil habitantes em todo o Estado que registrou o menor número de acidentes com vítimas fatais. 

Segundo o sistema, foram computadas oito mortes no período. Já na comparação entre 2017 e 2021, houve uma redução de 79% nos acidentes com vítimas nas ruas e avenidas dentro dos limites do município. Em 2022, a cidade revisou o plano de mobilidade urbana e, no mesmo ano, houve queda de acidentes com mortes nas principais avenidas.

REGIÃO ENFRENTA CONGESTIONAMENTOS MAIORES, DIZ ESPECIALISTA

O aumento no uso de veículos particulares tem intensificado os congestionamentos nas cidades da região. A análise é do pesquisador Luiz Vicente Figueira de Mello Filho, do Programa de Pós-doutorado em Engenharia de Transportes da Unicamp. Segundo ele, o crescimento econômico aliado à precarização do transporte público tem levado cada vez mais pessoas a optarem pelo automóvel particular como principal meio de locomoção.

“Com o aumento do PIB e do poder de compra da população, o número de automóveis e motocicletas nas ruas cresceu de forma representativa. Ao mesmo tempo, tivemos uma deterioração do transporte público em várias cidades — com poucas exceções — o que acabou afastando os usuários”, afirmou Mello Filho.

O especialista chama atenção para o fato de que, mesmo em centros com estrutura de transporte mais consolidada, como São Paulo, a perda de passageiros do transporte coletivo é notável. “Isso também se reflete na nossa região. Em Campinas, por exemplo, vimos uma queda expressiva no número de usuários de ônibus e um crescimento no uso do transporte individual.”

Entre os motivos dessa migração, Mello Filho destaca a falta de investimentos e modernização no sistema público. “Há uma defasagem da frota, serviços que não acompanham as necessidades da população, horários imprevisíveis e longos tempos de espera. Tudo isso afasta o cidadão do transporte coletivo.”

ACIDENTES EM ALTA

Com mais carros e motos nas ruas, o resultado é um cenário de congestionamentos cada vez mais frequentes, além de um aumento preocupante nos índices de acidentes. “Estamos enfrentando não só congestionamentos mais longos e constantes, mas também um crescimento no número de ocorrências de trânsito. Isso impacta diretamente na segurança viária e na qualidade de vida”, alertou.

Outro efeito colateral apontado pelo pesquisador é o agravamento da poluição atmosférica. “O aumento do tráfego de veículos também implica em mais emissão de poluentes. É um problema ambiental sério, que afeta diretamente a saúde da população urbana.” 

DADOS DA FROTA POR CIDADE

- Sumaré

208.243 veículos

Carros: 130.201

Motos: 35.100

- Hortolândia

151.575 veículos

Carros: 98.065

Motos: 25.290

- Nova Odessa

51.523 veículos

Carros: 30.901

Motos: 8.793

- Monte Mor

42.587 veículos

Carros: 26.453

Motos: 6.912

- Paulínia

94.800 veículos

Carros: 55.191

Motos: 12.048

Frota total regional: 548.728 veículos


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