Prática de esporte adaptado e aula de percussão transformam vidas de PcD
Projeto do lutador Alexandre Rodnei Amaro ajuda pessoas com deficiência descobrirem as suas capacidades e superar limitações por meio do boxe, futebol e instrumentos de batuque
Beth Soares | Tribuna Liberal
A prática de esportes adaptados e aulas de percussão transformam o dia a dia de PcD’s (pessoas com deficiência) atendidas pelo Projeto Lutando pela Vida, em Hortolândia. Nas manhãs de sábado, voluntários envolvem PcD em atividades gratuitas de boxe, futebol e percussão com o objetivo de promover a inclusão social e o desenvolvimento humano. Quarenta pessoas na faixa de idade entre 13 e 30 anos participam das aulas gratuitas.
Fundado pelo educador físico Alexandre Rodnei Amaro, atleta profissional em três modalidades de luta, o trabalho voluntário é realizado no Espaço Esportivo Santa Izabel, cedido pela Prefeitura. O endereço fica na rua Ervim Maier, 195, Jardim Santa Izabel, onde funcionava o antigo CVI (Clube Veteranos Independente).
De acordo com Amaro, pessoas com qualquer tipo de deficiência, seja ela física ou cognitiva, podem participar do projeto, desde que tenham, no mínimo, 10 anos de idade. As atividades são adaptadas de acordo com as limitações do participante. “Hoje, atendemos pessoas com paralisia cerebral, deficiências múltiplas, intelectual, física, visual e autistas”, comenta.
Para começar a experimentar os benefícios das atividades adaptadas basta a PcD comparecer ao local das aulas, que ocorrem todo sábado, das 8h às 11h30. Não é preciso fazer inscrição. Ricardinho, 24 anos, com deficiências na coordenação motora, já experimenta as vantagens das atividades adaptadas. Há um ano, ele participa do Projeto Lutando pela Vida e apresenta melhora significativa na qualidade de vida, segundo o soldador José Ricardo da Silva, 56 anos, pai do rapaz.
Ricardinho e seu pai Ricardo: aula de percussão melhora a qualidade de vida do jovem PcD atendido pelo Projeto Lutando pela Vida
“Depois do Lutando pela Vida, o Ricardinho é outra pessoa. Meu filho teve um avanço de 40% em melhoria, 70% em comunicação e progresso de 100% no interesse pelas atividades”, comemora Silva, morador do Jardim Terras de Santo Antonio.
Ele conta que conheceu o projeto por meio de um amigo e decidiu ir até o espaço para conhecer como funcionavam as atividades. “Chegando no local fui muito bem recepcionado pelo Alexandre que me passou todo o trabalho que é realizado, com muito esclarecimento e transparência. Vendo todo empenho e dedicação dele, comecei a levar o Ricardinho para fazer as atividades. Quero o melhor para o meu filho. Tenho um grande respeito e admiração por esse grande homem, que é um instrumento de Deus”, agradece o pai do Ricardinho.
A dona de casa Mirian Aparecida Nicolau Godoi, 51 anos, moradora do Jardim Nova América, diz que o projeto faz bem à sua filha, Luana, uma adolescente de 13 anos de idade, que tem Síndrome de Down, e é apaixonada por música.
“A Luana ama o projeto e convida sempre a família para participar...Ela faz futebol, boxe e percussão. Gosta de cantar, mas, era tímida e não gostava de ser tocada. Agora, está bem sociável. O amor do Alexandre pelas crianças é fora de série. Respeito muito o trabalho e talento dele. Deus capacita ele, todos os dias, com amor e paciência”, afirma a Mirian.
BENEFÍCIOS
De acordo com o Ministério da Saúde, a prática de esportes aumenta a força muscular, a resistência, a coordenação motora, o equilíbrio, a flexibilidade e a agilidade da pessoa com deficiência.
Essas atividades também ajudam a melhorar a circulação, aumentam a imunidade, auxiliam no controle do peso adequado e na diminuição do risco de obesidade. Outros benefícios são a valorização das capacidades da pessoa com deficiência, a integração social, além do estímulo à autonomia e melhora da autoestima da PcD.
Além das 40 pessoas que participam das atividades adaptadas no Espaço Santa Izabel, o projeto oferece assistência a mais de 80 famílias por meio do atendimento domiciliar, que leva as atividades físicas até a casa de PCDs.
Segundo Amaro, o projeto é mantido através de doações e com investimento próprio. No momento, o educador físico conta com o apoio voluntário do agente de saúde, Leonardo Silva, para realizar as aulas, além do suporte dos familiares das PcD. “O grupo de pessoas atendidas só aumenta a cada dia”, diz Amaro.
LUTADOR TRANSFORMA HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO EM SOLIDARIEDADE
Alexandre Rodnei Amaro é atleta profissional em três modalidades de luta: Kung Fu, Muay Thai e MMA. Na trajetória de competições, Amaro tem um cartel de mais de 30 lutas. O educador físico conta que descobriu o gosto e talento pelas artes marciais na juventude, após se tratar da dependência química.
“Em 2012, durante uma aula de Muay Thai, tive meu primeiro aluno PcD, o João. Percebi minha facilidade de atender no tatame pessoas com deficiência. Em 2018, fundei o Luta pela Vida em Hortolândia, atendendo pessoas no esporte, em praças públicas e em suas casas, de forma 100% gratuita”, conta o atleta que é, também, presidente do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência.
O educador físico afirma que a criação do Projeto é reflexo da sua própria história de vida marcada por momentos desafiadores, desde o nascimento, quando foi abandonado pela mãe na maternidade, e contou com a solidariedade de pessoas como seus pais adotivos, Amilton e Regina, para superar desafios.
Alexandre Amaro: fundador do Projeto Lutando pela Vida; aula de boxe adaptado na casa de PcD em Hortolândia
“Nasci prematuro, com problemas de saúde, o que me fez permanecer por meses na incubadora do hospital. Minha mãe biológica me abandonou na maternidade, porém, eu sou grato pois fui adotado ainda dentro do hospital. Aos quatro anos de idade fui diagnosticado com hiperatividade. Na adolescência e juventude, tive problemas graves com dependência química, chegando a ser internado três vezes. Estou limpo, sem usar drogas, desde 2001. Tenho na família pessoas com deficiências física e intelectual. Minha vida toda convivi com PCDs. Então o Lutando pela Vida tem a ver com a minha história”, explica Amaro.
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