Pesquisadores da região analisam objetos do DOI-Codi encontrados
DOI-Codi era órgão criado para prender e torturar cerca de 7
mil opositores ao regime militar no Brasil; material encontrado está vindo para
análises na Unicamp
Da Redação | Tribuna Liberal
Possíveis indícios de sangue, inscrições em uma parede e cerca de 300 objetos, como um pente, um tinteiro, uma sola de sapato e um jornal, foram encontrados durante escavações arqueológicas e uma investigação forense realizadas no antigo prédio do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna). O trabalho foi conduzido por pesquisadores da Unicamp e de outras universidades. Os objetos serão salvaguardados pela Unicamp, com exceção do possível material orgânico de origem humana, que será analisado por outra instituição.
“O material que vem para o LAP [Laboratório de Arqueologia Pública da Unicamp] é o material que não é potencialmente orgânico humano. Todo ele será analisado pela equipe do LAP e nós vamos oferecer cursos para que os alunos possam fazer as análises conosco”, diz Aline Carvalho, professora da Unicamp e pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais, que atua no projeto.
Quanto ao material que pode ser sangue, ainda é preciso uma análise laboratorial, já que o luminol, produto utilizado para identificá-lo, reage também com outras substâncias. “O luminol reage com qualquer substância que contenha ferro em sua forma iônica ou cobre. Ele reage com o sangue porque a hemoglobina tem ferro. Mas não reage apenas com materiais biológicos. Por essa razão, é possível haver um falso positivo e, portanto, são necessárias análises laboratoriais para a avaliação dos vestígios”, explica Claudia Plens, professora da Unifesp e arqueóloga que coordena a investigação forense.
Plens também fez comentários sobre as inscrições encontradas na parede de um banheiro, uma espécie de calendário. “Uma pessoa provavelmente estava fazendo a contagem do tempo em que esteve aqui presa. Tem dias da semana, mês... Essas inscrições são interessantes e também temos depoimentos de pessoas que se lembram da inscrição, complementando a história.”
DITADURA MILITAR
O DOI-Codi era um dos órgãos responsáveis pela prisão e tortura de opositores ao regime militar brasileiro (1964-1985). Estima-se que mais de 7 mil pessoas tenham sido torturadas nas instalações dele. Os materiais encontrados na investigação arqueológica englobam: vestígios que podem ser sangue, inscrições em parede de banheiro simulando um calendário, papéis de bala, sola de sapato e um tinteiro no local onde os presos eram fichados.
O trabalho de arqueologia ocorreu entre 2 e 14 de agosto, quando os pesquisadores realizaram escavações e utilizaram técnicas forenses. Antes dessas atividades, integrantes do Grupo de Trabalho Memorial DOI-Codi fizeram entrevistas com antigos presos políticos, contribuindo assim para reconstruir a memória sobre o local e guiar os trabalhos.
Integram o Grupo de Trabalho Memorial DOI-Codi a Unicamp, a UFMG, a Unifesp, o Ministério Público do Estado de São Paulo, a Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico do Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) e entidades da sociedade civil ligadas à preservação da memória e à defesa dos direitos humanos.
O grupo reivindica a transformação do antigo prédio do DOI-Codi em um memorial, a fim de preservar a memória e a verdade sobre o período da ditadura no Brasil. Uma ação civil pública que pede a criação do memorial está tramitando na Justiça.
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