Hortolândia pode ser referência para o Estado no controle de Leucena

Afirmação é do coordenador do Programa Município Verde Azul, José Walter Silva, durante seminário realizado pela Prefeitura, ontem

Hortolândia pode ser referência no Estado de São Paulo pelo trabalho de controle de árvores invasoras como a Leucena. A declaração foi dada, nesta quarta-feira (8/5), pelo coordenador do Programa Município Verde Azul, realizado pelo governo estadual, José Walter Figueiredo Silva, durante o 5º Seminário de Meio Ambiente, que abordou o tema “O Desafio de Controle das Leucenas no Cenário Urbano”, uma iniciativa da Prefeitura de Hortolândia, por meio da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. A atividade reuniu representantes do poder público de Hortolândia e região, autoridades ambientais, pesquisadores e estudantes.

Segundo Silva, cidades de todo o Estado enfrentam a invasão da Leucena que, apontam especialistas, devora toda a vegetação nativa às margens de rios e nascentes. Reportagem publicada pelo Tribuna Liberal, na edição do dia 15 de maio, revelou a preocupação dos municípios da região com a proliferação da Leucena e seu impacto para a biodiversidade.

 “Há uma demanda grande sobre o controle dessa espécie invasora pelos municípios. Hortolândia pode ser referência para outras cidades com a criação da legislação de controle dessa espécie”, afirmou o engenheiro agrônomo, durante a palestra “Floresta Urbana”.

Ele observa que criar uma lei que permite o corte dessas árvores e a substituição por nativas, diálogo com a comunidade e atividades de educação ambiental são os primeiros passos para os municípios iniciarem o controle da Leucena. “Esse seminário para discutir esse assunto é fantástico. Hortolândia não está dormindo. Há cidades que estão”, comentou Silva.

O prefeito José Nazareno Zezé Gomes (PL) lembrou que, em 2020, Hortolândia publicou o decreto 4.254/2020 que autoriza a supressão (corte) de árvores, quando necessário, e a substituição dos exemplares por espécies nativas. Agora, a Prefeitura vai criar uma legislação específica para o controle de plantas invasoras e fazer um diagnóstico das áreas dominadas pelas Leucenas (veja reportagem abaixo).

“Essa tarefa (de combate à Leucena) já foi iniciada aqui. Queremos controlar essa espécie e muita qualidade na arborização plantando árvores nativas no lugar”, disse o prefeito na abertura do seminário.

Zezé Gomes ressaltou que de 2017 a 2020, a Prefeitura plantou mais de 70 mil árvores. “Agora quero florir a cidade. A Leucena é uma cortina que esconde o viário. Vamos tirar essa cortina e plantar Ipês de todas as cores. Precisamos da alegria das flores no viário”, disse o prefeito.

De acordo com a engenheira agrônoma da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Alynne Danielle Sant’Anna, que apresentou o tema “A Realidade Local das Leucenas”, a Prefeitura realizou um levantamento para identificar áreas prioritárias onde há quantidade maciça de Leucenas no município.

Dentre as áreas apontadas pelo levantamento estão Parque Terras de Santa Maria, onde, de acordo com a engenheira agrônoma, há quatro nascentes; área do viário central próximo à Ponte Estaiada; o prolongamento do parque Lago da fé; Observatório Ambiental Parque Escola (OAPE, antigo Creape); região do viário Santa Fé, próxima à Confibra; Parque Socioambiental Renato Dobelin, na região central; e Parque Linear do Jardim Amanda, próximo à lagoa. Todas essas áreas são APPs (Áreas de Preservação Permanente).

 “A gente percebe que as árvores nativas plantadas pela Prefeitura perto das Leucenas capengam para sobreviver”, observa a engenheira.

DRAMA AMBIENTAL

A secretária de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Eliane Nascimento, destaca que a realização do 5º Seminário de Meio Ambiente é uma tradição no governo do prefeito Zezé Gomes, desde que ele era vice-prefeito.

“Hoje, reunimos especialistas da área de meio ambiente, que nos mostraram um retrato mais fiel da Leucena e como podemos conduzir a busca pelo controle do seu nascimento e proliferação. Focamos a discussão num drama ambiental que toma conta dos centros urbanos. Em Hortolândia, temos verdadeiras “florestas” de leucenas”, disse a secretária.

“É um tema delicado porque queremos controlar sua presença, valorizando o plantio e o desenvolvimento de espécies nativas em nossos espaços públicos. Por isso, nossa busca é por alternativas que introduzam ações de controle, sem extinguir a existência da espécie em nosso território”, completou Eliane.

Município vai aprimorar lei, mapear áreas e reflorestar com espécies nativas

No final do seminário, a Prefeitura assumiu o compromisso de elaborar legislação municipal que autoriza medidas para o controle de espécies invasoras. De acordo com o secretário adjunto de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Josemil Rodrigues, o assunto será discutido com o Conselho Municipal do Meio Ambiente.

O município também vai continuar o trabalho de mapeamento das áreas públicas dominadas pela Leucena. O projeto da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável é retirar as plantas invasoras e reflorestar o espaço com espécies nativas. De acordo com o secretário adjunto, a meta é plantar 80 mil mudas até 2024.

Rodrigues informa que a Administração vai implantar ações de educação ambiental específicas sobre os perigos ambientais da Leucena, além de propor uma campanha publicitária a respeito da importância do controle dessa árvore invasora.

Outra ação será a capacitação dos servidores da limpeza pública e zeladoria para identificar a Leucena com orientações sobre medidas para evitar que a árvore cresça.

“O prefeito Zezé Gomes tem como mandamento a construção de uma cidade inteligente e sustentável. A questão do controle da Leucena é apenas uma parte desse projeto, que coloca o cidadão como protagonista”, afirma o secretário adjunto.

PCJ ajuda municípios a criar programas de controle

Estudo realizado pelo PCJ (Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí) orienta os municípios a mapear, retirar e combater a reprodução da Leucena. O coordenador de projetos do PCJ, Francisco Lahoz, e assessores técnicos do Consórcio ministraram a palestra “O Cenário das Leucenas na Região do PCJ”.

Segundo Lahoz, as Leucenas dominam e agridem as APPS, mananciais e nascentes das bacias PCJ, formado por 41 municípios, dentre eles Sumaré, Hortolândia. Nova Odessa, Monte Mor e Paulínia.

“Temos que dialogar com a comunidade e encontrar idéias economicamente viáveis para gerar emprego e qualidade de vida com as Leucenas. Temos que transformar essa questão em algo positivo, assim como questão dos resíduos”, disse Lahoz.

Entre as recomendações do estudo PCJ para o controle da planta estão a criação de legislação municipal que autorize o corte, mapeamento das áreas dominadas pelas Leucenas e orientações sobre as formas de controle.

De acordo com o assessor técnico do Consórcio PCJ, Fávio Stenico, o estudo foi feito para atender a demanda de municípios da área do consórcio com informações sobre controle e manejo das espécies invasoras.

 “Muitas vezes, as espécies nativas plantadas pelos municípios são prejudicadas pelas Leucenas no trabalho de reflorestamento. Então, o PCJ tem fomentado o controle. Seminários como este promovido pela Prefeitura de Hortolândia são muito importantes para que a população entenda o problema ambiental ”, afirma Stenico.

CONTROLE

Segundo o engenheiro agrônomo Marcelo Machado Leão, especialista em técnicas de controle da Leucena, o combate dessa árvore daninha é um dos maiores desafios ambientais do mundo. Ele propõe que os municípios criem programas de controle da Leucena.

“Exige aspectos legais, monitoramento constante, inovação em pesquisa e desenvolvimento. Tem que ser um trabalho contínuo e exige mobilização social. A Leucena traz um desserviço para outras formas de vida vegetal”, afirma Leão. 

Ele cita três formas de controle das Leucenas: mecânico (por corte), químico (com uso de herbicidas) e biológico com o plantio de espécies nativas que controlem as invasoras. De todas, o controle por corte é o mais utilizado, informa o engenheiro. “Mas é impossível erradicar a Leucena só com o corte porque ela rebrota”, alerta Leão.   


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