Geral
Represa do Horto 2, em Sumaré: um dos mananciais que abastece o município está com baixa vazão

Falta de chuva coloca abastecimento de água em estado de atenção na região

Estiagem prolongada e altas temperaturas durante o inverno baixam a vazão dos rios e ameaçam oferta de água à população de Sumaré, Nova Odessa, Hortolândia, Nova Odessa e Paulínia, onde vivem mais de 750 mil pessoas

Beth Soares | Tribuna Liberal

A falta de chuva, combinada com as altas temperaturas, coloca o sistema de abastecimento de água dos municípios da região (Sumaré, Nova Odessa, Hortolândia, Monte Mor e Paulínia) em estado de atenção. O alerta é das empresas responsáveis pelo serviço de abastecimento. 

Com o período de estiagem severa, a vazão de mananciais que abastecem boa parte dos municípios está 40% abaixo do esperado, informa o Consórcio PCJ (Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí). Em Sumaré, a população vive a maior seca da última década (veja reportagem abaixo).

O cenário indica redução da disponibilidade hídrica, o que significa menos água para ser captada e distribuída à população, com possibilidade de escassez do líquido, caso a estiagem continue nos próximos meses. 

Em Sumaré, a BRK, concessionária responsável pelos serviços de água e esgoto no município, informa que, no momento, o sistema de abastecimento opera em condição de normalidade, porém, o cenário pede atenção por conta do aumento de consumo diante da combinação de temperaturas acima da média e chuvas abaixo do esperado para o período.

De acordo com a concessionária, dos quatro mananciais que abastecem Sumaré, o único a operar com 100% de sua capacidade é a represa do Horto 1. Os demais estão em estado crítico e de atenção (veja reportagem nesta página).

A BRK destaca que monitora e trabalha no combate à escassez hídrica nos dois mananciais que estão em estado crítico. Diz, ainda, que segue as ações contínuas de combate às perdas de água em todo município. “O uso racional da água por parte da população é um recurso aliado e de grande importância para atravessarmos o momento mais crítico da estiagem deste ano”, afirma nota da assessoria de imprensa.

A empresa de saneamento recomenda que a população priorize o consumo para hidratação, preparo de alimentos e higiene pessoal, e que tarefas como a lavagem de quintais e de veículos sejam adiadas. “Quando realmente houver necessidade de limpeza das áreas externas, a orientação é para substituir a mangueira por baldes e reaproveitar a água da máquina de lavar”, completa a BRK.

A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), responsável pelo abastecimento de água em Hortolândia, Monte Mor e Paulínia, informa que não há falta d´água nas cidades atendidas, mas devido “a severa estiagem e as altas temperaturas que afetam todo o País, o uso consciente da água é essencial”.

Para diminuir os reflexos do período sem chuvas, a Sabesp diz que reforça investimentos em seus sistemas, trabalha em conjunto com as prefeituras para o aperfeiçoamento da infraestrutura do município e no combate a perdas d´água. 

Nova Odessa é a única cidade da região onde 100% da captação de água para abastecer a população é feita em represas próprias. De acordo com a Coden, responsável pelo serviço de abastecimento, “a distribuição de água está normal, sem racionamento”.

Embora não forneça números, a empresa informou que os dados de monitoramento apontam um volume armazenado de água acima de outros anos de poucas chuvas. 

“Por enquanto, não há previsão de faltar água até o início do período chuvoso. Medidas de combate a uma eventual escassez de água serão avaliadas após a época de chuvas, quando estarão disponíveis indicadores de armazenamento mais adequados para essa finalidade”, diz nota da assessoria de imprensa.

INVESTIMENTO

A Coden informou que, desde 2021, teriam sido investidos mais de R$ 15 milhões em obras e serviços para evitar perdas d´água e aumentar a capacidade de reservação, tratamento e distribuição hídrica. Dentre os investimentos, a Coden destaca a inauguração da ETA 2 (Estação de Tratamento de Água) e do Sistema de Abastecimento de Água na região do Pós-Anhanguera, que aumentaram em 19% a capacidade produtiva do município e possibilitaram a captação de água em duas novas fontes, as represas Salto Grande e Santo Ângelo.

Segundo a companhia, o prolongamento da adutora Córrego Palmital e integração à ETA 1 permitiram a dispensa da interligação dessa rede a um braço da represa Recanto 2, evitando perdas decorrentes de infiltrações em veios de córregos e por evaporação na represa. 

Atualmente, a Coden se prepara para a construção da nova Represa Recanto 4, que será o primeiro reservatório para armazenamento de água bruta de Nova Odessa em 30 anos.

SUMARÉ VIVE MAIOR SECA DA ÚLTIMA DÉCADA, REVELA ESTUDO PLUVIOMÉTRICO

A população de Sumaré vive o maior período seco da última década. Nesta semana, a BRK divulgou que de janeiro a agosto deste ano, choveu em Sumaré o equivalente a 395 milímetros. Os dados do acompanhamento pluviométrico realizado pela concessionária apontam 2024 como o ano mais seco desde que a série histórica se iniciou, em 2013. Até então, o pior resultado havia sido registrado em 2014, quando choveu 549 milímetros nos oito primeiros meses do ano.

O acompanhamento pluviométrico tem o objetivo de avaliar as condições dos mananciais e garantir a segurança operacional do sistema de abastecimento de água tratada. No comparativo com 2023, por exemplo, a queda no volume de chuvas na cidade chega a 53,4%. No ano passado, nos primeiros oito meses, choveu o equivalente a 848 milímetros. 

A BRK observa que o período de estiagem começou antes do esperado, em todo o Estado, e já provoca reflexos nos níveis dos mananciais de abastecimento. De acordo com a empresa, o rio Atibaia, o principal para a captação de Sumaré, opera nesta semana em estado de atenção com nível de 1,53 metro, frente a um mínimo necessário de 1,20 metro.

Já a represa do Marcelo, está com 53% da sua capacidade operacional, em estado de alerta, uma vez que o mínimo necessário é de 38%. A captação do Horto 1 é o único dos quatro mananciais a operar com 100% de sua capacidade. No Horto 2, a capacidade atual é de 68% e o mínimo necessário é de 62%, portanto, seu estado é considerado crítico.

“O volume de chuvas em 2024 foi especialmente baixo até aqui, contrastando com o cenário que tivemos no ano passado. Por isso, a baixa na vazão dos mananciais é uma consequência natural. A concessionária, contudo, vem trabalhando desde o início da estiagem com ações para manter o abastecimento de água potável operando em normalidade para toda a cidade”, afirma Daniel Makino, gerente de Eficiência Operacional da BRK.

VAZÃO DOS RIOS ESTÁ 40% ABAIXO DO ESPERADO, DIZ CONSÓRCIO PCJ

Com a estiagem severa, a vazão dos mananciais das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí está 40% abaixo do esperado neste período do ano, com temperaturas bastante altas, o que aumenta o consumo e amplia os impactos da estiagem. Quem afirma é o assessor técnico do Consórcio PCJ (Consórcio Intermunicipal das Bacias do Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí), Flávio Forti Stenico.

Segundo ele, para os 20 municípios que realizam suas captações de água nos rios Atibaia, Jaguari e Piracicaba, que tem suas vazões regularizadas pelas liberações do Sistema Cantareira - caso de Sumaré, Hortolândia, Monte Mor e Paulínia -, os abastecimentos estão assegurados até que as chuvas cheguem, mesmo que tardias.

Atualmente, diz o assessor técnico do PCJ, o Sistema Cantareira registra 53,9% de capacidade, volume superior ao registrado nos anos de 2020; 2021 e 2022, o que se revela suficiente para o atendimento desses municípios, mantendo-se as vazões dos pontos de controle para a Bacia.

Os outros 56 municípios que não possuem suas captações em rios regularizados pelo Sistema Cantareira, ou seja, municípios que dependem de captações em cursos d’água locais ou poços profundos, estão passíveis de desabastecimento temporário, desde que não ocorram chuvas significativas nos próximos 45 dias, principalmente aqueles que não possuem reservatórios de armazenamento de água.

O PCJ informou que no dia 1º de junho de 2024 o volume do Sistema Cantareira era de 70,3% de volume armazenado (Situação Normal de operação dos reservatórios). Atualmente, o sistema opera com 53,9% de volume armazenado (Situação de Atenção de operação dos reservatórios).

O assessor técnico explica que, mesmo diante dessa queda de volume, em comparação com os últimos 5 anos, esse valor se configura como o segundo maior registrado para o período. “Até o presente momento, foram utilizados 58% dos volumes totais disponíveis para as Bacias PCJ”, comenta Stenico.

De junho a agosto de 2024, as chuvas ocorreram na ordem de 33% abaixo do esperado para as regiões de abrangência das Bacias PCJ, sendo registrado apenas 66,9 milímetros de chuvas para o período, quando eram esperados 100,1milímetros.

Já nas regiões de cabeceira, onde localizam-se os reservatórios do Sistema Cantareira, completa Stenico, a situação foi um pouco pior, com chuvas na ordem de 39,6% abaixo do esperado para os meses de junho a agosto de 2024. Nesse período, foram observados apenas 80,7 milímetros de chuvas num total esperado de até 133,8 milímetros.

OPERAÇÃO ESTIAGEM ORIENTA MUNICÍPIOS COMO ENFRENTAR PERÍODO SEM CHUVAS

Para ajudar os municípios amenizarem os impactos do período sem chuvas e evitar uma possível interrupção do serviço de abastecimento, o Consórcio PCJ mantém a Operação Estiagem. 

Dentre as medidas recomendadas pela Operação estão ações mais amenas, como o uso consciente e racional da água, chegando-se a extremos onde a entidade disponibiliza aos municípios modelos para elaboração de decretos e documentos legais para oficialização de medidas mais drásticas de contenção do consumo, como o caso de rodízios e situações semelhantes.

De acordo com o PCJ, destacam-se como recomendações de ações necessárias para o enfrentamento da estiagem investimentos em campanhas de sensibilização, sistemas de aproveitamento de água de chuva e reuso da água, construção de bacias de retenção, cisternas, reservatórios municipais de água tratada ou água bruta, piscinões ecológicos, combate às perdas por vazamentos nas redes de distribuição, plantios ciliares e preservação de nascentes e mananciais, dentre outras tecnologias.

Deixe um comentário