Geral

Cresce número de famílias que precisam de doação de cestas básicas na região

Elevação do preço dos alimentos e desemprego aumentam procura por itens nos serviços assistenciais das prefeituras e entidades

A alta do preço dos alimentos e o desemprego no pós-pandemia fazem aumentar a procura por cestas básicas nos serviços assistenciais das prefeituras de Sumaré, Nova Odessa e Hortolândia. Essa realidade confirma dados da pesquisa divulgada pelo Instituto Datafolha, na última segunda-feira (27), que revela: um em cada quatro brasileiros diz que falta comida em casa (veja reportagem ao lado).

Em Nova Odessa, a distribuição de cestas básicas aumentou de 240 unidades, por mês, antes da pandemia, para uma média de 800 a 1.000. De acordo com a diretora de Promoção Social da Prefeitura, Priscila Peterlevitz, pessoas de média e baixa renda recebem os alimentos.

Para receber a cesta básica a família precisa estar cadastrada no CadÚnico (Cadastro Único para Programas Sociais). O investimento mensal na compra de cestas básicas é de R$ 67 mil, segundo a Prefeitura de Nova Odessa.

A Secretaria de Inclusão e Desenvolvimento Social de Hortolândia informou que investe uma média de R$ 10.367.400, por ano, na aquisição de cestas básicas para atender famílias de baixa renda. Nos últimos meses, o órgão identificou crescimento na procura dos kits de alimentos.

De janeiro a maio deste ano, contabiliza a Secretaria, 25 mil cestas básicas foram entregues pela Prefeitura. Em 2020, foram 53.900 e, no ano passado, 48 mil unidades. Segundo a Administração, a prioridade para atendimento são pessoas em situação de pobreza e extrema pobreza identificadas no CadÚnico.

“O número de beneficiários aumentou bastante durante 2020, em 2021 diminuiu um pouco. Neste ano, a demanda aumentou novamente devido à situação de desemprego no pós -pandemia”, observa a secretária adjunta de Inclusão e Desenvolvimento Social, Roberta Diniz.

Mais gente também tem batido na porta do Fundo Social de Solidariedade de Hortolândia (Funsol) em busca de alimentos básicos. De acordo com o órgão, os mantimentos são solicitados por famílias que passam dificuldade financeira momentânea e, por isso, não querem se cadastrar nos programas assistenciais da Prefeitura.

“Nesses últimos dois meses, houve um aumento significativo na procura por cestas básicas diretamente no Fundo Social... podemos apontar fatores como a alta de preços (dos alimentos) e desemprego para justificar o aumento. Fazemos o trabalho solidário, mas buscamos oferecer à nossa comunidade cursos profissionalizantes para que as pessoas fiquem aptas ao mercado de trabalho. Dignidade é você poder escolher o que comer e na hora que quer”, afirma Maria dos Anjos, presidente do Funsol.

M.A.F, 38 anos, auxiliar de produção desempregada, que mora no Jardim Nova Hortolândia, conta que a cesta básica doada pela Prefeitura tem garantido a alimentação básica da sua família, composta pelo marido e dois filhos, de sete e nove anos de idade.

“Tudo tá caro. Estou sem trabalho e meu marido faz bicos de pedreiro, pagamos aluguel, então fica difícil sobreviver. Ainda bem que as crianças comem na escola”, conta a auxiliar de produção, que pediu para não ser identificada. “A gente se sente sem dignidade numa situação dessa, nunca passamos por isso”, desabafa M.A.F para justificar o pedido de anonimato na reportagem.

SUMARÉ TEM CESTA VERDE

Em Sumaré, a Prefeitura entregou, no primeiro semestre deste ano, 11.282 cestas básicas e pacotes nutricionais a famílias em vulnerabilidade social. O número já é mais que o dobro do total entregue durante todo o ano de 2021, quando foram distribuídas 4.828 cestas básicas. Em 2020, pico da pandemia, o município distribuiu mais de 21 mil kits de alimentos, número quase 10 vezes maior que em 2019, quando foram entregues 2.370 cestas.

De acordo com a secretária de Inclusão, Assistência e Desenvolvimento Social, Ana Cléia Meneguetti, o número de beneficiados cresceu durante a pandemia, e ainda está alto, em razão dos impactos econômicos das medidas restritivas adotadas antes do desenvolvimento das vacinas contra a Covid-19.

“Muitas famílias que já não se enquadravam mais nos programas da pasta, diante da pandemia, perderam a fonte de renda ou a viram cair drasticamente. Isso acabou fazendo com que essas pessoas voltassem a depender de programas sociais”, observa a secretária.

Desde o mês passado, Sumaré distribui cestas de produtos hortifrutis a 540 famílias em situação de vulnerabilidade alimentar, inscritas no CadÚnico por meio do PPA/Cesta Verde (Projeto de Aquisição de Alimentos), realizado em parceria com a Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento.

Segundo a Ana Cléia, cada família recebe, quinzenalmente, cestas com cerca de 10 quilos de alimentos, como frutas, legumes, verduras e tubérculos, produzidos por pequenos produtores da região.

ENTIDADES TAMBÉM AJUDAM COLOCAR ALIMENTO MA MESA 

Entidades assistenciais também sentem o aumento de famílias em busca de itens alimentícios. São pessoas que perderam o emprego ou vivem de “bicos” e não conseguem bancar o alto custo de itens básicos como arroz, feijão e óleo.

O fundador e voluntário do Projeto Águia, Reginaldo Prado, conta que recebe, no mínimo, cinco pedidos de cestas básicas por semana. O foco principal do projeto, em Hortolândia, é promover a inclusão social por meio do esporte, mas a doação de alimentos se torna necessária diante dos pedidos de socorro para colocar comida na mesa.

“Tem gente que nem pede a cesta completa, mas kits com o básico do básico. Nós sempre nos mobilizamos para atender pedindo ajuda a amigos e, também, ao Fundo Social da Prefeitura, além das campanhas de arrecadação que realizamos durante o ano”, comenta Prado.

De acordo com a presidente da AMAAH-SP (Associação de Mães e Amigos dos Autistas de Hortolândia), Priscila Silvana de Paula Silva, nos últimos meses, a grande procura na entidade tem sido por leite zero lactose, que custa mais de R$ 6 a unidade de um litro, além de fraldas descartáveis.

A Associação distribui alimentos básicos para 19 famílias. Os produtos chegam à entidade por meio do Programa Banco de Alimentos da Prefeitura.

“Pessoas que só o marido trabalha e o que ganha não é suficiente, gente desempregada ou que vive de bicos, e não consegue manter tudo, são as que nos procuraram para receber ajuda”, descreve Priscila.

Interessados em doar leite zero lactose à AMAAH-SP, podem entrar em contato por meio do telefone (19) 99346-5761. 

1 EM CADA 4 BRASILEIROS AFIRMA NÃO TER COMIDA SUFICIENTE, APONTA DATAFOLHA

Pesquisa Datafolha, divulgada na última segunda-feira (27), revela que um entre quatro brasileiros (26%) afirma não ter comida suficiente para alimentar seus familiares. Os mais pobres são os mais afetados pela insegurança alimentar, segundo o levantamento. Entre as pessoas com renda familiar de até dois salários-mínimos (2.424 reais), 38% dizem não ter comida suficiente em casa para suas famílias.

Segundo a pesquisa, 62% dos brasileiros afirmam ter comida suficiente, enquanto 12% disseram ter mais do que o suficiente; e 26% disseram não ter alimentos suficientes.

Na faixa dos que recebem entre dois e cinco salários-mínimos (6.060 reais), esse percentual é de 14%, caindo para 4% entre os que recebem até dez salários-mínimos (12.120 reais).

Entre os desempregados, 42% disseram não ter o suficiente para se alimentar. O problema afeta 39% das pessoas que disseram ter desistido de buscar trabalho; 38% das donas de casa e 27% dos autônomos.

Segundo o Datafolha, além da alta nos preços, o retorno do emprego com funções precarizadas e de baixa remuneração e o acúmulo de incertezas quanto ao ambiente político e econômico nos próximos meses fazem do custo dos alimentos uma preocupação central dos brasileiros.

Reportagem do Jornal Folha de S.Paulo cita que um estudo divulgado no início do mês mostra que 33,1 milhões de pessoas no Brasil estão em situação de fome. De acordo com o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, o país tem 14 milhões de pessoas a mais em situação de insegurança alimentar do que há um ano. Os principais motivos para o avanço da fome são a falta de políticas públicas e o cenário da pandemia.

A pesquisa revelou que 58,7% da população brasileira convive com a insegurança alimentar em algum grau – leve, moderado ou grave (fome). Atualmente, apenas quatro em cada 10 domicílios brasileiros conseguem manter acesso pleno à alimentação, ou seja, estão em condição de segurança alimentar.

Deixe um comentário