Aos 90 anos, Dona Arlete faz da aventura uma filosofia de vida nas trilhas 4x4
Com disposição invejável, aposentada descobriu a paixão pelo off-road a partir de um convite do filho, com quem hoje divide momentos e compartilha histórias dos roteiros
Beto Silva | Tribuna Liberal
Aos exatos 90 anos e oito meses, a aposentada Arlete
Leonilde Salvatori Niero é uma personificação de adrenalina e vitalidade. Ela
não só se mantém ativa, como é presença indispensável (e necessária) nas
trilhas 4x4 da equipe Zequinhas, de Sumaré. Na agenda de Dona Arlete, o próximo
desafio está marcado para o dia 23 de novembro: os 320 quilômetros do Caminho
da Fé, de Sumaré até Aparecida, que percorrerá ao lado do filho, o analista de
sistemas Marcelo Niero. Juntos, mãe e filho são unidos à paixão pelo off-road,
que começou a se transformar em uma jornada de aventuras e boas histórias.
Com disposição invejável, Dona Arlete confessa que
inicialmente hesitou quando Marcelo a convidou para se juntar ao grupo. “Eu
dizia que não tinha idade para aquilo”, relembra. Mas bastou uma primeira
experiência para mudar de ideia. Hoje, ela é quem avisa o filho sobre os
próximos passeios do grupo. “Às vezes, ela me pergunta se eu vi o passeio que o
grupo vai fazer, e nem estou sabendo ainda. Ela foi notificada antes de mim”,
conta Marcelo, rindo.
Os possíveis riscos das trilhas, como lama e terrenos acidentados, em nada assusta a destemida aventureira. “Quando chove é muito bom, nas subidas e descidas, é muita adrenalina”, diz com um sorriso, explicando que, além da emoção, também aprecia o carinho que recebe dos jipeiros e suas famílias. “As crianças me beijam, me abraçam e me chamam de vó. Os homens são muito respeitosos comigo, sinto-me como em uma grande família. É maravilhoso”, afirma Dona Arlete.
HISTÓRIAS DE RIO E TRILHEIROS
A cada novo percurso, Dona Arlete acumula histórias para
contar. Em uma das primeiras expedições com os jipeiros, o organizador informou
que passariam por um rio, e ela, animada, respondeu: “Sim, quero muito
atravessar o rio”. No local, ao perceber que o ‘rio’ era apenas um riacho, não
escondeu sua surpresa. Para satisfazer o desejo dela, o organizador adaptou a
trajetória e encontrou um rio com água que cobria as rodas dos veículos.
“Andamos mais de um quilômetro na água. Eu gosto muito quando tem rio no
roteiro”, confessa.
Outro episódio aconteceu em uma trilha na região de Barueri, onde encontrou um grupo de motociclistas de trilha. Dona Arlete, extrovertida como sempre, chegou a pedir uma volta em uma das motos, mas, para a decepção dela, as motos de trilha não são projetadas para carregar um garupa. Marcelo lembra ainda das vezes em que sua mãe assistia às competições de motocross do irmão mais velho e percorria a pista na garupa após as provas. “Ela sempre participa das atividades dos filhos”, aponta.
CAMINHO DA FÉ
Para Dona Arlete, uma das características mais cativantes da
comunidade dos jipeiros é o espírito de solidariedade e empatia que permeia
cada trilha. Marcelo ressalta: “Nas trilhas, não importa o que você é na vida
pessoal ou profissional. Somos todos iguais e nunca deixamos ninguém para trás.
Se estamos em um grupo de dez e encontramos alguém com problemas, terminamos a
trilha em onze”.
Marcelo Brito, coordenador da equipe Zequinhas, confirma que
o próximo Caminho da Fé — marcado para o dia 23 — será uma expedição de dois
dias, partindo de Sumaré e chegando em Aparecida. A expectativa é de mais uma
aventura cheia de desafios e boas histórias para Dona Arlete, que não só
inspira os mais jovens, como também reforça o valor da coragem e da
determinação em qualquer fase da vida.
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