Monte Mor adia aulas de crianças especiais por falta de funcionários
Mães relatam dramas enfrentados por filhos com autismo e
prejuízos ao ensino e aprendizado porque não há servidores o suficiente da
Prefeitura
Paulo Medina | Tribuna Liberal
Monte Mor tem se deparado com desafios na Educação Especial. Após registrar aumento de 30% no número de matrículas nessa modalidade de ensino entre 2022 e 2023, a Prefeitura adiou o início das aulas em 2024 devido à escassez de monitores para atender os alunos especiais, como aqueles diagnosticados com TEA (Transtorno do Espectro Autista). Mães de alunos relatam prejuízos ao ensino dos filhos.
“Aqui na cidade de Monte Mor é muito complicado as coisas, né? Eu tive que ir na Secretaria da Educação na segunda-feira, por quê? Uma, que eu sou deficiente visual e meu filho também tem um transtorno do espectro autista, ele é nível de suporte 1. Como eu falo sempre, para as coisas acontecerem aqui na cidade, a gente tem que brigar, a gente tem que muitas vezes ameaçar, muitas vezes colocar em processo, porque senão a gente não consegue as coisas aqui”, disse a mãe Kelly Queiroz, cujo filho estuda na Escola Municipal Regina Batista Alexandre, região do Jardim Paviotti. Ela considera o atendimento a pessoas com deficiência desvalorizado na cidade.
Kelly criticou a Prefeitura por não ter providenciado as contratações para atender os alunos. “As crianças precisam ter prioridades, principalmente aquelas que têm deficiência. Eu falo por mim, eu sou deficiente visual, então assim, eu falo por mim. As crianças precisam ser assistidas, a pessoa com deficiência precisa ser valorizada, ela precisa ter valor. Então assim, eu luto mesmo pelo meu filho, luto mesmo por cada criança aqui, porque todas as crianças têm o direito de ir e vir. Você tem um professor auxiliar na sala. Poxa, a Prefeitura teve dois meses para contratar alguém e aí falou que a demanda tinha 30% (de aumento) e não conseguiram contratar alguém. Que culpa as crianças têm? As crianças só querem ir para a escola, elas só querem ser ensinadas, elas só querem ser ouvidas, mas infelizmente aqui nessa cidade não tem isso”, declarou a moradora.
Ela contou que depois de insistência, enfim, conseguiu fazer com que o filho fosse para a escola. “Para o meu filho voltar para a escola ou começar as aulas, desde o dia 1º, que foi o início das aulas, eu tive que ir na Secretaria da Educação. Ele começou a ir para a escola, mas eu tive que brigar na Secretaria da Educação. Então agora ele começou a ir para a escola, terça-feira ele já foi”, disse ao comentar que “conseguiram também para ele uma professora eventual”. “Mas também não sei se essa professora eventual vai ficar o ano inteiro com ele”, disse preocupada. A moradora relatou ainda que terapia para o filho teve de conseguir por conta própria na cidade de Campinas.
Mãe de aluno com autismo, a moradora que pediu para ser identificada apenas como Patrícia, confirmou que as aulas do filho dela iriam começar no dia 1º, mas ela não mandou a criança para a escola por conta da falta de profissionais. “Aí na reunião que teve de pais no sábado, no dia 3, eu fui, aí eles explicaram a situação de que realmente não tinha, que tinha sido contratado, mas que ainda não ia começar, que só depois do dia 19. Eu falei, tá, se foi feita uma rematrícula, né, em dezembro, no começo de dezembro, na escola, com laudo, nas crianças que tinha essa deficiência, que tinha essa condição do autismo, né, tem crianças que têm TDAH, tem criança que realmente tem, são cadeirantes, sindrome de Down, que realmente necessitam, como todos. Por que que já não foi contratado antes? Por que que esperou chegar, as aulas começaram no dia 1°, fizeram a contratação um dia antes. A gente tem que esperar 20 dias para prejudicar nossos filhos?”, criticou Patrícia, que falou em “falta de planejamento”.
“E aí vem sugerir sutilmente que se você achar que para ele não é legal trazer ele para a escola sem a cuidadora, você tiver condições de ficar com o seu filho em casa, seria melhor para ele, porque aqui vai sobrecarregar as crianças na sala, porque não tem professor, vai sobrecarregar ele porque não tem cuidador, então, de repente, para ele fosse melhor, eu falei assim, vocês vão dar um jeito de arrumar a pessoa para ficar com ele, porque o meu filho não vai deixar de ir na escola”. O filho de Patrícia estuda no Jardim São Clemente, na Escola Municipal Leonardo Rodrigues da Silva. Ela reclamou da falta de apoio pedagógico para o filho há três anos.
“Meu filho é autista, mas ele nessa parte não precisa de cuidador, ele precisa de uma estagiária na parte pedagógica para poder ajudar ele no acompanhamento escolar. E já fazem três anos que não têm. Teve um concurso público, conheço pessoas diretas a mim que fizeram concurso, passaram no concurso, ficaram aguardando chamar, já passou dois anos dessa data e não chamaram. E ela perdeu o contrato, porque parece que concurso aqui vale por dois anos, depois se não chamar não adianta mais”, relatou.
Patrícia pontuou o prejuízo ao ensino das crianças. “O prejuízo para os nossos filhos é muito grande, né, porque eles não querem que a gente mande as crianças para a escola, então não estão incluindo, estão excluindo. A tal da inclusão não existe, é uma palavra jogada no vento, porque senão eles priorizariam as crianças especiais. Quando foi feita a matrícula lá atrás, a rematrícula lá em dezembro, olha, a gente tem 100 crianças que fizeram a rematrícula especial, por isso a gente precisa contratar profissionais para atender essas 100 crianças aqui. Então vamos ver isso já, desde janeiro, né, para quando chegar em fevereiro, tá tudo certinho? Não, esperou o dia de começar a aula para fazer isso”.
Ela comentou que a situação gerou tensão entre as mães porque “sugeriram para a gente mandar nossos filhos depois do dia 20”. “A gente tem que aceitar pacificamente. Senão a gente é as mães descontroladas. A gente tem que ver esse tipo de coisa na própria escola”, lamenta. Em Sumaré, por exemplo, o aumento de 16% nas matrículas entre 2022 e 2023 para alunos especiais foi gerenciado. Foram mais de 1,3 mil matrículas, segundo o governo federal.
OUTRO LADO
A Prefeitura de Monte Mor foi procurada para comentar o caso, mas não se manifestou até o fechamento desta edição.
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