Dica de Leitura: Vantagens que Encontrei na Morte de Meu Pai

Dica de Leitura: Vantagens que Encontrei na Morte de Meu Pai

 (Paula Febbe) - Editora: Darkside Books | Páginas: 224

 

 Evelyn Ruani: Bibliotecária da Rede Sesi-SP e leitora compulsiva. Apaixonada por livros e palavras.


Hoje vamos conhecer um pouco mais sobre a autora Paula Febbe e sua obra “Vantagens que Encontrei na Morte de Meu Pai” publicado pela editora DarkSide Books. Paula estudou roteiro no Goldcrest Production Theater, em Nova York, e psicanálise no Centro de Estudos Psicanalíticos (CEP), em São Paulo. Autora de sete livros de ficção sobre perversão e psicose, a escrita brutal e expositiva dos dilemas humanos é uma de suas marcas registradas. Paula recebeu diversos prêmios com o filme 5 Estrelas, que coescreveu com o diretor Fernando Sanches, com o filme chegando a finalista também do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. O filme fez parte da seleção oficial do festival LABRFF, de Los Angeles e do Festival fantaspoa, em 2020, mesmo ano em que Paula roteirizou a obra Fetiche, de Heitor Dhalia, criado em colaboração artística com a autora e inspirado em livro de autoria dela. Vem comigo conhecer um pouco mais sobre essa autora:

 

Como a literatura entrou em sua vida?

Na verdade eu acho que ela sempre esteve. Minha mãe era minha professora de redação no colégio e lembro de tentar escrever o melhor que eu podia para ter boas notas e provar para os colegas da sala que aquelas minhas notas não aconteciam por conta da minha mãe ser a professora. Eu achava que ela pegava mais pesado comigo até do que com eles, rs.

 

Você tem alguma rotina para escrever ou escreve quando surge oportunidade?

Eu escrevo todo dia, mas o processo é pouco romântico. Faço o que precisa ser feito para ser entregue no prazo. Assim, bem prático. Acho que depois de um tempo vivendo da escrita, a gente não pode mais contar com a inspiração. A gente percebe que as frases aparecem quando a gente senta pra escrever.

Quanto tempo demora para concluir um livro?

Depende muito. Eu já terminei livros em uma semana e três meses. Mas aí ele ainda passa por revisões e todo um trabalho de muita gente que faz o livro acontecer. Escrever é rápido. Todo o resto é que não é.

As histórias “se escrevem” sozinhas ou você pensa na trama inteira?

Se escrevem sozinhas. Meu processo de escrita é totalmente inconsciente. Às vezes eu tenho só o nome e uma vaga ideia do que eu quero que aconteça, aí a história se faz e me leva para onde eu tenho que ir.

De onde vem a inspiração?

Da minha percepção. De detalhes das pessoas, de frases que ouvi, de pensamentos que tive em alguma situação e depois achei que tinha esquecido, mas volta quando estou escrevendo. É um processo bastante inconsciente mesmo!

Quais são seus livros e autores/autoras favoritos?

Os livros para os quais eu sempre volto são: A Paixão Segundo G.H., da Clarice Lispector, A passagem tensa dos corpos do Carlos de Brito e Mello e Natimorto do Lourenço Mutarelli. Além destes, gosto muito de Machado de Assis, Chuck Palahniuk, Saramago, Freud e meus colegas Cesar Bravo, Verena Cavalcante, Bruno Ribeiro, Marco de Castro, Marcos DeBrito, Cristhiano Aguiar e Oscar Nestarez. Acho que estamos numa fase muito rica da literatura nacional.

Tem planos para livros futuros?

Tenho até um livro escrito e na fila para ser lançado. Ano que vem, será? Talvez.

 

RESENHA

 

SURPREENDENTE!

 

 

Primeiro contato com a narrativa da autora Paula Febbe e já virei fã. O título do livro já é bastante impactante e me levou por um caminho da história que nem de longe era o que a autora tinha pra me contar, o que me deixou surpresa e até chocada.


“Afinal, é isso que fazemos, não é? Olhamos para o lado que nos agrada e esperamos com toda a força que aquilo que odiamos desapareça assim que viramos o rosto”.

 

O livro traz muito de desamparo, ausência, silêncios impostos, traumas e perdas. É a história de uma cicatriz aberta e pulsante que vai revelar fraquezas, dores e lados obscuros da natureza humana. A leitura desse livro me fez refletir muito sobre a complexidade da natureza humana e como não é possível prever como as pessoas reagirão a certas ações ou a falta delas.

O livro traz a narrativa em primeira pessoa da enfermeira Débora, que está acompanhando os tratamentos do pai em fase terminal, pai este que foi super ausente a sua vida toda e com o qual ela aparenta ter muitos problemas emocionais. Em paralelo temos um narrador contando alguns casos de pacientes do hospital onde Débora trabalha de forma bem aleatória e demora um bom tempo até que faça sentido o real motivo desses casos estarem ali.

“A eternidade transforma as pessoas naquilo que achamos que elas foram”.

 

Qualquer coisa a mais que eu diga sobre a história tirará todo o choque do plot twist sensacional que a autora tece com maestria ao longo das páginas. Fico com a incumbência de dizer que é uma história bastante impressionante sobre relacionamentos familiares desajustados, que aborda um assunto importantíssimo que é a responsabilidade afetiva e tudo isso numa edição extremamente linda e cheia de capricho como todos os livros da Darkside.

“Sua essência é o silêncio que acontece em meio ao barulho ensurdecedor que a sua vida faz para te distrair”.

 

Com certeza uma leitura que vai te arrancar da zona de conforto! A autora consegue amarrar super bem todas as pontas dessa história e tudo aquilo que no início parecia aleatório vai fazer total sentido no final. Aliás, que final! É de cair o queixo, o final que essa história nos entrega. Super recomendo a leitura! 

SERVIÇO


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