Após um ano de quarentena, lojistas de Sumaré relatam o que têm feito para não sucumbir à pandemia, que avança dia a dia no país
Dona de uma loja de roupas e acessórios no Centro de Sumaré, a comerciante Gleine Miranda, como a maioria dos empreendedores brasileiros, teve que se reinventar para manter seu negócio de mais de 30 anos de pé. Neste mês, o retrocesso à fase vermelha e a instalação da fase emergencial fizeram seu faturamento cair 80%. Na semana em que a quarentena em São Paulo completou um ano, a reportagem do jornal Tribuna Liberal ouviu lojistas da cidade, que veem o faturamento despencar a cada medida anunciada pelo Governo do Estado para tentar controlar a disseminação do novo coronavírus.
Gleine não perdeu tempo. Assim que o governo estadual mandou fechar o comércio, no ano passado, iniciou a transição de sua loja para a plataforma virtual. “Quando veio a determinação, fechamos a loja. Ficamos 100 dias fechados e pagando os funcionários em dia. Nesse tempo, criamos um site, cadastramos os produtos e intensificamos as ofertas pelas redes sociais e WhatsApp”, conta a comerciante.
No entanto, todo esforço dela e de suas cinco funcionárias não foi recompensado. “Inicialmente, ficávamos na loja o dia todo, tentando vender pelo WhatsApp e aguardando os pedidos feitos pelo site. Mais o volume de vendas era muito pequeno, fazíamos duas ou três vendas por dia, o que não era suficiente para pagar as despesas”, relata.
A reabertura da loja, em junho do ano passado, com a vigência da fase laranja do Plano São Paulo, foi um alento. No entanto, um novo pico de Covid-19 em 2021 voltou a abalar as vendas. “O começo do ano passado não foi muito bom. Este está ainda pior. Nos dois primeiros meses deste ano, nossas vendas caíram 30%”, calcula a empreendedora.
Com as portas fechadas mais uma vez e tentando conquistar clientes que navegam pela internet, Gleine aguarda o fim da fase emergencial – em princípio, agora previsto para 11 de abril – para reabrir a loja. “Está muito difícil. Parece que tudo que a gente faz ainda é pouco. A gente está trabalhando mais do que nunca para vender muito pouco”, diz ela.
Carla Paiva trabalha com artesanato. Com o fechamento das feiras livres e a suspensão de eventos, ela viu a renda cair 60%. Para sobreviver, tem usado suas redes de contato, as mídias sociais e apostado no delivery. Embora reconheça a importância do isolamento social, ela critica a ação do governo. “Entendo a pandemia, mas esse endurecimento sem alternativas para nos auxiliar no pagamento das contas fica bem complicado”, argumenta.
Abner Marcondes Lucio também ampliou a vitrine de sua loja de sapatos na internet. O comerciante tem usado “lives” (transmissões ao vivo) para fisgar os clientes. Suas vendas despencaram 40% de janeiro até agora, na comparação com o ano passado.
O comerciante não vê o fechamento como solução para a pandemia. “Proibir as atividades como está sendo feito pode gerar situações extremamente complexas e talvez irreparáveis. Tão irreparáveis quanto aqueles que partiram. É preciso encontrar equilíbrio, acelerar a vacinação e exigir que todos cumpram as medidas de segurança”, defende ele.
Domingo, 28 de Março de 2021