Fator, associado à redução na demanda, trava investimentos no principal segmento da indústria sumareense, segundo estudo
Sumaré é uma das cidades da RMC (Região Metropolitana de Campinas) mais impactadas pela queda da atividade industrial, desencadeada pela crise provocada pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19). O município tem 51% do PIB (Produto Interno Bruto) industrial concentrado no setor automobilístico, que não consegue retomar o ritmo de produção por conta da queda no consumo, a alta nos preços de matérias primas e a falta de insumos. A constatação faz parte do estudo “Obstáculo ao investimento industrial na RMC”, elaborado pelo economista Ricardo Buso, idealizador do projeto Economia Metropolitana.
O economista explica que o investimento industrial depende de dois fatores básicos: alguma segurança por parte do produtor em demanda (percepção de que o produto será vendido), comprometida pela queda do poder de compra do consumidor, causada pela alta taxa de desemprego, e a inflação nos preços de matérias primas essenciais ao processo produtivo. O setor industrial – conforme dados da Fundação Seade, agência de estatísticas do Governo de São Paulo – tem relevância de cerca de 27% no PIB do conjunto da RMC, algo em torno de R$ 56 bilhões em atividade econômica.
Segundo o estudo, dados da Bolsa de Chicago apontam que, em 12 meses, a cotação da bobina de aço, principal matéria prima da indústria automotiva, acumulou alta de 140%, passando de US$ 516 (R$ 2,9 mil) para US$ 1,258 (R$ 7.070) a tonelada curta. Isso sem contar a desvalorização do dólar ante o real no período analisado.
“A origem do problema está também na recuperação da economia chinesa, que demanda muito aço e, consequentemente, sua matéria prima, o ferro. Este último, no mesmo mercado, teve o preço corrigido em cerca de 100% em 12 meses, de US$ 83,35 (R$ 468) para US$ 168,44 (R$ 946) É importante lembrar que a famosa globalização não se inibe por comportamentos geograficamente tão distantes, refletindo imediatamente aqui na Região Metropolitana de Campinas”, explicou Ricardo Buso.
De acordo com o economista, além de a variação atingir toda a cadeia industrial em diferentes aspectos, ela impacta os valores finais dos produtos, criando barreiras adicionais ao consumo e, desta forma, causando insegurança para o investimento.
Atividade que depende do uso intensivo de aço, o segmento de veículos automotores representa 12% do PIB industrial do grupo metropolitano. Além de Sumaré, onde o segmento representa 51% do PIB, também sofrem impacto os parques industriais de Indaiatuba (34%) e Campinas (18%).
“São impactos de alta relevância econômica quando pensamos na possibilidade de limitação da capacidade de consumo por preço, justamente no momento em que o crescimento é mais desejado”, destacou o idealizador do projeto Economia Metropolitana.
PRODUÇÃO E VENDAS
A venda de veículos novos caiu 16,7% em fevereiro, segundo dados divulgados no início do mês pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). No acumulado do ano, a retração foi de 14,2% no bimestre na comparação com o mesmo mês do ano passado. Em 2020, a retração foi de 26%. Segundo o balanço, a indústria automobilística registrou queda de 3,5% na produção, em fevereiro, com 197 mil veículos. No acumulado do ano, houve ligeira melhora, com alta de 0,2% para 396,7 mil unidades.
HONDA
A escassez de componentes tem afetado o ritmo das linhas de montagem. Além de semicondutores, componente eletrônico usado em várias partes dos veículos, as montadoras têm enfrentado falta de insumos, como plásticos, borracha, pneus e aço.
A Honda, fabricante japonesa que opera em Sumaré desde 1997, já parou a produção do modelo Civic duas vezes este ano por falta de semicondutores: a primeira ocorreu antes do Carnaval, entre os dias 5 e 12 de fevereiro, e a segunda entre 1º e 10 de março. Aproximadamente mil funcionários ficaram em regime de férias coletivas no período.
Domingo, 21 de Março de 2021